19.3.05

Sobre a constituição de um Partido Liberal

Muito se tem escrito aqui no Blasfémias e noutros blogues sobre esta questão.

Da minha parte, concordo com o AAA (mais uma vez; para não variar), quando defende n'O Insurgente que não é oportuna a criação de um partido liberal.

Na verdade, mais do que criar um partido de raiz, urge difundir o ideário; o que importa é que as gerações que venham a assumir o poder (económico, político, judicial), no curto-médio prazo, adiram ao conjunto de princípios que constituem a essência do liberalismo e os transportem para a sua vida e actividades correntes.

Os partidos de poder estão sendimentados; a criação de um partido de matriz liberal no presente limitará os horizontes e o raio de acção dos Liberais: o partido ficará cristalizado à direita do PP: o PP, como aqui já referi, é um partido político do centro, por vezes com alguns devaneios esquerdistas, mas que, por ser no plano moral o único partido conservador em Portugal, portador de uma mensagem democrata-cristã, está fortemente enraizado junto do eleitorado mais tradicional, ocupando o espaço da direita. Esse espaço político - que o PND tentou disputar - tem uma dimensão limitada, com uma expressão eleitoral reduzida; daí que a criação de um partido liberal, na minha opinião, não tenha viabilidade; nem me parece que seja fácil criar um espaço político de raíz para o liberalismo com um expressão em termos eleitorais capaz de impor mudanças no sistema político.

Por isso, o que interessa é trabalhar o liberalismo dentro dos partidos de poder. O Liberalismo é portador de uma mensagem que pode e deve ser difundida em grande escala, naquilo que é o espaço do centro e da direita (ocupado pelo PP, PSD, e uma parte significativa do eleitorado do PS); é errado dirigir a mensagem para um eleitorado restrito e específico.O partido mias adequado para ser o portador da mensagem liberal é o PSD: i) por se colocar junto do eleitorado numa posição equidistante entre a esquerda e a direita conservadora, podendo assim agregar apoios em ambos os quadrantes; ii) por ser o partido a quem o eleitorado sempre reconheceu uma maior capacidade para liderar a mudança, sendo o que até hoje melhor se reinventou e acompanhou os novos tempos.
Rodrigo Adão da Fonseca