11.8.05
«AMOR DE MÃE»
A fértil imaginação nacional parece confrontar-se com um novo desafio: o de gravar a tatuagem mais original no lombo dos nossos concidadãos. É vê-las por aí aos milhares, nessas praias, gravadas nos bícepes, costas, peitorais, membros (lato sensu), tornozelos, coxas, etc. Destoadas, pesadas, leves, graves, carregadas, grandes, pequenas e médias. Uma estrela, um dragão, uma cobra, um animal selvagem, um símbolo esotérico, todas, quase inevitavelmente, pejadas de gatafunhos chineses, cheios de significados ocultos: um gatafunho significa «amor sem fim», outro «vida eterna», outro ainda «virilidade» e «força sexual».
Há alguns dias, um amigo chegado, moço ainda sem responsabilidades e vida estável, confidenciou-me que, num primeiro contacto mais íntimo com uma dessas amigas de férias, levado pelo ímpeto da juventude e o calor próprio da estação, avançando um pouco além do que a moral permite, se confrontou com uma horrenda e gigantesca «teia de aranha» gravada em torno das partes mais íntimas da moça. O meu amigo, pouco dado à discrição, pagou as inconfidências que fez com a bonita alcunha de «spiderman», rapidamente divulgada para galhofa de amigos e inimigos. Pode ser que lhe sirva de lição. Para ter mais cuidado com o que diz e com quem e por onde anda.
Antigamente, tudo era mais simples e elementar. As tatuagens lusitanas eram exclusivamente masculinas e não ultrapassavam um coração, com um «amor de mãe» ou um «Angola - 69» centrado. A probabilidade de nos confrontarmos com aracnídeos em sítios absolutamente impróprios era muito reduzida ou mesmo inexistente. Não há dúvida que, quanto mais envelhecemos, mais perigoso o mundo se torna.