5.6.06

o código de bolonha

O recente «Processo de Bolonha» só tem sido ultrapassado em popularidade pelo famigerado «Código da Vinci», do não menos famigerado Dan Brown. Não por acaso (como é sabido, os acasos não existem?), os dois têm a Itália como referência e pano de fundo. É muita coincidência para não vermos aqui uma mensagem subliminar.
Efectivamente, tal como o famoso «Código» banaliza, ao nível mais rasteiro, o que o esoterismo ainda poderia ter de fascinante (não por acaso, Eco recusou um encontro mediático com o autor do pastelão), também o «Processo de Bolonha» banaliza, a um nível igualmente rasteiro, o ensino universitário europeu. Pela simples razão de que a finalidade do dito «processo» não é tanto a de criar condições para um grande mercado europeu universitário, onde os estudantes e graduados pudessem circular livremente, mas a de formatar e padronizar o ensino universitário ao nível mais elementar, como se de um produto lácteo se tratasse. A criação de ciclos de estudo padronizados, a redução do naipe de cursos de primeiro ciclo (licenciatura) a um número limitado, a obrigatoriedade dos famosos ECTS, e a desvalorização dos 2ºs ciclos (mestrados), são bons exemplos disso mesmo. Tudo isto obviamente sem ter em conta os proteccionismos nacionais e corporativos. Em Portugal, por exemplo, todas as ordens profissionais estão a exigir que se mantenha tudo como dantes, quartel general em Abrantes, ou seja, o mesmo número de anos de formação para se poder aceder às profissões tuteladas. Na prática, quem quiser ser advogado, arquitecto, médico ou engenheiro, terá que completar o mesmo número de anos que anteriormente compunham a licenciatura, só que, agora, alguns desses anos (os últimos) serão as partes lectivas dos mestrados. Que os alunos podem concluir ou não, defendendo uma dissertação, ou ficando apenas com a parte lectiva do mestrado para exercício de uma actividade profissional. O que significa, de imediato, que se está a misturar um ensino de formação alargada e geral com um ensino de vocação especializada, para se conseguir exercer uma profissão. Em nome da mobilidade e da exigência, o resultado mais do que provável, pelo menos em Portugal, será quase inevitavelmente a mediocridade e a banalização.
Nem Dan Brown conseguiria melhor.

Sobre o assunto recomendo:
Bolonha e a Universidade Portuguesa, do André Azevedo Alves;
Tenho um medo terrível de Bolonha, do Miguel Castelo-Branco.