5.6.06

TAL COMO O REFRÃO DO HINO

Há duas semanas, Helena Matos, num artigo no Público, referia a "vocação aeróbica" da política portuguesa - corre-se por qualquer coisa, marcha-se por-não-sei-o-quê, desfila-se por tudo e por nada. Houve mesmo o caso peregrino de um ministro da agricultura socialista que resolveu encabeçar uma manifestação que contestava a política do seu ministério e, naquela coerência guterrista que ainda não se foi, marchou convictamente contra si mesmo...
José Sócrates sempre foi dos mais marchantes e o facto de presentemente ser o agente político com mais poder neste país não parece desmotivar essa sua impetuosidade caminhante.
Desta vez, ao lado de 4.000 crianças - graciosa companhia politicamente tão rentável -, o primeiro-ministro vai marchar pela preservação da paisagem e do património do Alto Douro Vinhateiro.
Como se fosse um simples particular, terceiro na questão, o primeiro-ministro marcha. Na falta de medidas concretas que amparem o fim em causa, o Governo marcha.
Está encontrada a solução para uma das perplexidades que os liberais colocam desde há séculos: para que existe o Governo?
Graças a Sócrates, agora sabemo-lo - para marchar, marchar, marchar...