23.2.05

ARISTOCRATAS

Uma leve passagem de olhos pelos jornais da manhã obriga-nos a entrar no pequeno mundo da sucessão de Pedro Santana Lopes. Barões e baronetes desdobram-se em declarações de apoio e rejeição, manifestações de adesão e repugnância, de entusiasmo e de tristeza, em torno das pardacentas figuras que sobejaram em disponibilidade para liderar o partido, após o tsunami de 20 de Fevereiro. Um fala bem, outro mal, aquele está no parlamento e o outro não, este é baixo, aquele é alto, um do Norte, outro do Sul, fulano é coxo, sicrano é manco, um terceiro é careca, e um quarto tem uma verruga no nariz. É neste interessante universo de questões que a aristocracia laranja vai flutuando, etérea, no seu pequeno e hermético mundo, acima dos comuns mortais. O partido é deles, as concelhias e as distritais são suas, os votos no congresso, também. O país, um dia, voltará a ser, como tantas outras vezes tem sido, ao longo destes últimos trinta anos. O bom povo português, ignaro e ingrato, se quiser, que siga o Congresso nas televisões. É sempre um espectáculo digno de se ver, que o partido generosamente, de tempos a tempos, oferece à populaça. Entretanto, deixem-nos continuar a tratar do que, de facto, interessa: ungir o eleito.
Como se pode medir pela amostra, continuam sem perceber nada do que se passa.