(Também a propósito da magna questão da «reconstrução da Direita» portuguesa»)
As reacções a este post reflectiram várias perspectivas, crenças e percepções da realidade portuguesa. A questão não é só económica, está, simultaneamente, antes e para além de uma análise económica (sobretudo, se se tratar unicamente de uma análise macroeconómica).
Não se pretendeu tipificar, generalizadamente, a "família portuguesa" - tão somente uma realidade muito nacional, diría, encarada, cada vez mais, como uma situação natural, bem "à portuguesa". A questão é que este é, no essencial - com estas ou com outras circunstâncias - o modelo, o tipo normativo da família que consegue beneficiar com o suposto Estado Social português.
O grande problema - quando está na ordem do dia, pelo menos aqui, a discussão sobre o que deverá ser a Direita portuguesa, como deverá reconstruir-se - é que, sistematicamente, este é o tipo de família e de portugueses para quem o discurso político se volta. Mesmo o dos partidos da dita Direita. Recorrentemente, as campanhas eleitorais, da Esquerda à Direita seguem o mesmo percurso pela esquerda. Sem diferenças significativas, no essencial.
Os operários (estes, que têm normalmente voz), a suposta e vagamente indefinida "classe trabalhadora", a população dos bairros sociais, onde estes casos de economia paralela, de chico-espertice, são - aí sim! - a regra e que merecem sempre, invariavelmente, honras de visita em todas as campanhas autárquicas, enfim, toda esta população "socialmente desfavorecida" é o alvo quase exclusivo do discurso político. Alvo e simultaneamente pretexto para chavões políticos de quem não tem ideias, nem conhece o seu espaço sociológico.
Isto significa que, politicamente, criou-se o mau hábito de se destruir e de se atacar (quanto mais não seja por omissão - entenda-se, por falta de atenção á realidade) a classe média. Seja por estupidez, seja por facilidade, seja por incapacidade de controlar o Estado cada vez mais autopoiético e mastodôntico (exigindo desenfreadamente mais receitas públicas que só se podem encontrar em quem ainda não consegue evitar ter que as suportar: a classe média!).
Isto também foi o que o último(s) governo(s) fez(fizeram). É também isso que justifica os resultados eleitorais de domingo.
O que resta da classe média, entre nós, só pode, cada vez mais, votar única e exclusivamente com um sentido punitivo. Se me vão aos bolsos, se me tratam mal, se me dificultam a vida e não me compreendem, então, nas urnas, levam um cartão vermelho.
Tão simples e tão básico (talvez, também, tão sábio), como isto!
É a democracia encarada e vivida, cada vez mais intensamente, como o poder de derrubar governos. Sem mais. Unicamente.
E é assim que votam, cada vez mais, as outras famílias como aquelas que o nosso leitor Caramelo (com a devida vénia) conhece:
"conheço famílias, em maior quantidade, em que o segundo emprego é uma necessidade de sobrevivência. Conheço inclusive funcionários públicos que em casa, à noite, fazem rissóis para vender aos cafés na manhã seguinte, não por ganância, mas como complemento para poder sustentar a família".