Escreve Vital Moreira, a propósito da vitória do PSD em Leiria, o único distrito do Continente que permaneceu "laranja":
O défice socialista em Leiria é tanto mais surpreendente quanto se trata de um distrito do litoral, com índices de desenvolvimento económico e urbano relativamente elevados. Um mistério.
Eu julgo ter uma explicação para o "mistério": o distrito de Leiria caracteriza-se, desde há vários anos, por uma capacidade empreendedora e de inovação, designadamente nos sectores do vidro e cristalaria e no dos moldes de plástico, sendo neste último o recurso intensivo às novas tecnologias porventura uma das chaves de sucesso. Este empreendedorismo, só terá paralelo em algumas "ilhas" dos distritos de Braga e Aveiro, onde têm despontado nos últimos anos PMEs nas áreas das tecnologias de informação.
O eleitorado do PSD sempre se caracterizou por ser maioritariamente constituído por self-made-(wo)men, que sobem na vida à custa do esforço e mérito próprios. Um tal espírito ainda subsistirá em Leiria, mas não resistirá a prazo ao cerco da total "funcionalização pública" para que o País tende. A isto acresce a ameaça que se anuncia para as empresas mais dinâmicas daqueles referidos sectores: muito em breve, irão ter de lutar contra os seus concorrentes mais ineficientes, beneficiados estes com "cabeça-de-obra" barata - os 1.000 jovens que Sócrates quer colocar em PMEs...
Mas o que choca naquela afirmação de VM é o maniqueísmo sobranceiro que lhe está subjacente: zona do litoral, urbana e desenvolvida, tem de votar necessariamente à esquerda; por contraponto, zona do interior, rural e atrasada, deverá então votar à direita, o que aliás não aconteceu no domingo.
Seria aliás interessante analisar os casos de Vila Real, Bragança e Viseu, distritos onde o PSD perdeu pela primeira vez em eleições legislativas. Eu acho que estes distritos tenderão a mudar definitivamente para o "rosa", à medida que faixas crescentes das respectivas populações passarem a viver do assistencialismo. No Interior Norte e Centro, a maioria sociológica é ainda constituída por pequenos proprietários agrícolas, grande parte dos quais estão hoje inactivos e a viver dos subsídios irracionais da PAC ou das pensões de velhice. A promessa demagógica de Sócrates do aumento destas, mais não faz do que consolidar esta subsídio-dependência e não terá sido despicienda nos resultados eleitorais de domingo.
O dramático disto tudo é a mentalidade que se vai enraizando em muita gente, promovida por políticos de todos os quadrantes: cada vez mais se acham no direito de viverem à custa da riqueza produzida por cada vez menos. Os 4,5 milhões de dependentes do orçamento que alarmaram Medina Carreira só podem subir e esta tendência é o caminho mais directo para a pobreza generalizada.