22.2.05

A CRISE DO PSD - ALGUMAS EVIDÊNCIAS




1. Estas não foram as primeiras eleições que o PSD perdeu após a formação do governo de coligação com o CDS/PP.

2. Em Junho de 2004, sob a liderança de Durão Barroso, a coligação do PSD com o CDS, que se submeteu às eleições para o Parlamento Europeu, obteve 33,20% dos votos. Na altura, Barroso disse que percebera muito bem o sinal que o povo português lhe dera e que agiria em conformidade. Três semanas mais tarde era indigitado presidente da Comissão Europeia.

3. Nas eleições legislativas do dia 20 de Fevereiro, o PSD obteve 28,69% dos votos expressos, enquanto que o CDS teve 7,26. No conjunto, 35,95%.

4. Poderá alegar-se que as eleições são diferentes, que os eleitores votam de modo distinto e que os índices de abstenção foram muito maiores nas europeias do que nas legislativas. Não é verdade: essas diferenças abrangem todos os partidos e, de resto, as posições relativas entre eles foram praticamente as mesmas, com uma diferença: nas legislativas a direita, apesar de tudo, subiu em percentagem

5. Isto significa que o eleitorado está zangado com a direita desde há muito, e não apenas com o governo Santana. A crise da direita é, por isso, muito anterior a ele, o que não significa que ele não tenha também responsabilidades e as não deva assumir.

6. A desilusão começou com o primeiro governo da maioria, com as medidas de austeridade que foram impostas aos portugueses, a falta de cuidado, direi mesmo, a arrogância com que foram aplicadas, e com o não cumprimento de algumas promessas eleitorais, nomeadamente, o famoso «choque fiscal», tema central da campanha eleitoral do PSD, que atraiu parte substancial da classe média. A mesma que, agora, foi votar no PS.

7. Mas, mais grave do que os sacrifícios exigidos, foi a convicção generalizada de que eles não serviam para nada, a não ser para compor a contabilidade nacional para apresentar em Bruxelas. As reformas de fundo não foram feitas e o Estado não deu o exemplo: boys em catadupa, salários milionários na alta administração do Estado, reformas principescas, organismos públicos parasitários intactos, etc.

8. A coisa excedeu os limites do razoável, quando foi nomeado para presidir à mais importante de todas as reformas, a da administração pública, o professor Deus Pinheiro. Este, a meu ver, foi o sinal mais claro de que Barroso não queria verdadeiramente proceder às reformas estruturais de que o país necessitava. O país, de resto, percebeu-o também e disse-lho sem rodeios em 13 de Junho de 2004, como lho voltaria a dizer em 20 de Fevereiro, se fosse ele o líder do partido.

9. O governo Santana, as trapalhadas, a horrível campanha eleitoral feita pelo PSD, tudo isso foram apenas consequências naturais do que se passara antes, com os necessários condimentos fornecidos pela personalidade do novo primeiro-ministro. Porém, mais tarde ou mais cedo, o PSD teria de experimentar esta via e, na verdade, vale mais agora do que mais tarde, por exemplo, no início de uma legislatura com maioria de esquerda.

10. Mas, a maior das trapalhadas foi a saída abrupta do governo de um primeiro-ministro que andara a pedir votos contra um partido cujo líder abandonara, também abruptamente, o governo. Por mais exaustivas que tenham sido as explicações dadas, não foram convincentes e o eleitorado não as aceitou. O próprio PSD não levou a bem: recorde-se, por exemplo, a reacção de Manuela Ferreira Leite.

11. Em conclusão, diga-se que é evidente que o futuro do PSD não passa (nunca passou) por Pedro Santana Lopes. Porém, ele está longe de ser o único e, até, o principal responsável pelo que aconteceu. Quem insistir noutra leitura dos factos está a cometer um imenso disparate ou uma desonestidade política. Desenganem-se, portanto, aqueles que possam pensar que o futuro do partido poderá estar nas mãos de alguns dos dirigentes que estiveram comprometidos com o governo anterior ao actual, como, por exemplo, Manuela Ferreira Leite. Se o PSD for por aí, se não optar por alguém descomprometido com os últimos três anos, dificilmente regressará ao poder nos tempos mais próximos.