Ter o poder de construir uma boa escola implica ter a capacidade de escolher os melhores fornecedores externos, os melhores manuais e os melhores funcionários, até ao limite dos recursos disponíveis. Implica ter o poder premiar os funcionários que cumprem as expectativas e despedir os que não contribuem para o caminho do sucesso.
O sucesso mede-se pela pela percepção da qualidade de serviço pelos clientes, alunos e pais de alunos, ajudados por avaliações externas à qualidade dos serviços prestados e pelos critérios que cada cliente julgue relevantes. ###
Se o serviço é mau, os clientes protestam, alguns podem mudar de fornecedor, o prestígio do serviço prestado diminui e os novos clientes podem procurar alternativas. Com poucos clientes interessados numa escola que presta um mau serviço, e se os proveitos estiverem indexados ao número de clientes, ou a má escola melhora, ou a má escola fecha. A boa escola prospera. A má escola atrai concorrência.
O que é que isto tem a ver com o que se passa em Portugal? Nada. A escola portuguesa é um produto qualquer embalado pelos decisores centrais, os clientes não têm capacidade de escolha do produto que são obrigados a adquirir. É o decisor central e/ou a cunha que decide se o cliente tem a sorte receber um serviço assim/assim ou uma fava.
A opinião dos clientes sobre a qualidade do produto que recebe não é tolerada. O gestor não quer ser avaliado pela qualidade do serviço que fornece e compreende-se, tão pouco é o seu controle sobre os recursos de que dispõe. O gestor nem sequer está autorizado a devolver os fornecimentos de má qualidade à procedência. A má escola recebe o mesmo dinheiro que a boa escola, minimizando os incentivos para a melhoria contínua dos serviços prestados.
A concorrência tem que ser capaz de angariar clientes dispostos a pagar o serviço na íntegra depois de serem obrigados a pagar também o serviço de má qualidade que não usufruem e que é muitas vezes ainda mais caro do que o que pagam. A concorrência é obrigada a ser muito melhor e a selecção faz-se apenas pelo dinheiro. Os mais ricos compram os produtos de melhor qualidade, os mais pobres são obrigados a aceitar o plano quinquenal.
Mais grave ainda. Os recursos formados por estas escolas são mais tarde admitidos nas universidades e a auto-avaliação dos serviços prestados pelas escolas é um dos mais importantes critérios de admissão. O prestador do serviço-escola tem todo o interesse em aldrabar a sua auto-avaliação, porque é-lhe indiferente avaliar correctamente ou inventar notas e é melhor inventar para ter poucos protestos. Como estas escolas competem com as que são obrigadas a lutar pelo mercado, estas últimas são também obrigadas a desvirtuar a auto-avaliação, sob pena de perderem os poucos clientes endinheirados que constituem o seu mercado.
Como é alguém pode esperar que um sector de actividade organizado desta maneira poderia, alguma vez, ter sucesso?
E agora? Agora, alguém terá que dar o primeiro toque no primeiro dominó. Talvez o cheque-ensino. Depois, é esperar para que as peças vão caindo, uma a uma. Quanto tempo teremos que esperar? Uma geração? Duas?