Esta minha posta provocou várias reacções que merecem reflexão, designadamente a do Hugo Oliveira e do RAF. Mas antes daquela ter a sua melhor oportunidade, importa especificar que o meu ponto se centrava na recusa da moda que julgo descortinar, erradamente ou não, de se integrarem matizes religiosas no discurso político do universo a que se convencionou chamar "direita" (designação que, em si mesmo, constitui um conceito indeterminado cujo núcleo duro significará um espaço alargado que recusa as soluções socialistas).O que eu queria salientar eram os pressupostos errados em que tal convicção estratégica assenta. O exemplo brasileiro apenas me serviu para ilustrar que esse esforço pode redundar num fracasso dessa "direita" e no robustecimento de uma esquerda folclórica, até aí, em maus lençóis - e esse meu ponto não foi sequer beliscado, julgo, pelos contestatários citados. ###
Já passei por experiência análoga num pequeno partido que ajudei a fundar. Queria-se uma coisa nova e diferente e até existiam condições mínimas para o conseguir a médio ou a longo prazo. Mas depressa surgiram algumas inteligências estratégicas garantindo o sucesso eleitoral e financeiro, a curtíssimo prazo, entendamo-nos, caso fosse prosseguida uma agenda recheada de causas em que se têm distinguido os grupelhos de fanáticos ligados ou não oficialmente à Igreja. Note-se que as pessoas que defendiam esse caminho nem sequer eram católicos fervorosos - mas achavam que as coisas tinham de ser assim para se chegar lá...
Enquanto tive voz, fartei-me de apontar o erro crasso que essa opção comportava. Vencido, afastei-me. Entretanto, esse partido esganiçou-se inconsequentemente pelas "mães", bradou contra o "aborto", pugnou pelos direitos sociais acrescidos das famílias que optaram por procriar ao estilo dos coelhos: tiveram menos de 1% dos votos.
Claro que este caso é de importância diminuta e pouco representará. Mas por todo o lado, por cá e no estrangeiro, leio e ouço testemunhos de perigosa simpatia estratégica por esse tipo de opções discursivas.
Repito que o meu ponto se consubstancia na tentativa de demonstração desse erro. Se a "direita" for por esse caminho fortalecerá os seus adversários. Afastará de si os muitos moderados que preferem viver de acordo com as referências e valores da sua época. A "direita" passará a viver numa triste trincheira a tender para bunker, fechada, rancorosa face à mudança e sempre temerosa dos avanços do conhecimento científico. Será uma "direita" do contra. Como o foi, em grande parte nos países da Europa Central e do Sul, aliás, durante os anos 20, 30 e 40. Por cá, infelizmente, subsistiu mais algumas décadas. E a avaliar, sobretudo, pelo extraordinariamente cândido juízo que o RAF faz dos conceitos conservadores (?!), duvido muito que se tenha finado.