14.6.06

PIAS ASNEIRAS DA DIREITA (2)

Esta minha posta provocou várias reacções que merecem reflexão, designadamente a do Hugo Oliveira e do RAF. Mas antes daquela ter a sua melhor oportunidade, importa especificar que o meu ponto se centrava na recusa da moda que julgo descortinar, erradamente ou não, de se integrarem matizes religiosas no discurso político do universo a que se convencionou chamar "direita" (designação que, em si mesmo, constitui um conceito indeterminado cujo núcleo duro significará um espaço alargado que recusa as soluções socialistas).
O que eu queria salientar eram os pressupostos errados em que tal convicção estratégica assenta. O exemplo brasileiro apenas me serviu para ilustrar que esse esforço pode redundar num fracasso dessa "direita" e no robustecimento de uma esquerda folclórica, até aí, em maus lençóis - e esse meu ponto não foi sequer beliscado, julgo, pelos contestatários citados. ###
Já passei por experiência análoga num pequeno partido que ajudei a fundar. Queria-se uma coisa nova e diferente e até existiam condições mínimas para o conseguir a médio ou a longo prazo. Mas depressa surgiram algumas inteligências estratégicas garantindo o sucesso eleitoral e financeiro, a curtíssimo prazo, entendamo-nos, caso fosse prosseguida uma agenda recheada de causas em que se têm distinguido os grupelhos de fanáticos ligados ou não oficialmente à Igreja. Note-se que as pessoas que defendiam esse caminho nem sequer eram católicos fervorosos - mas achavam que as coisas tinham de ser assim para se chegar lá...
Enquanto tive voz, fartei-me de apontar o erro crasso que essa opção comportava. Vencido, afastei-me. Entretanto, esse partido esganiçou-se inconsequentemente pelas "mães", bradou contra o "aborto", pugnou pelos direitos sociais acrescidos das famílias que optaram por procriar ao estilo dos coelhos: tiveram menos de 1% dos votos.
Claro que este caso é de importância diminuta e pouco representará. Mas por todo o lado, por cá e no estrangeiro, leio e ouço testemunhos de perigosa simpatia estratégica por esse tipo de opções discursivas.
Repito que o meu ponto se consubstancia na tentativa de demonstração desse erro. Se a "direita" for por esse caminho fortalecerá os seus adversários. Afastará de si os muitos moderados que preferem viver de acordo com as referências e valores da sua época. A "direita" passará a viver numa triste trincheira a tender para bunker, fechada, rancorosa face à mudança e sempre temerosa dos avanços do conhecimento científico. Será uma "direita" do contra. Como o foi, em grande parte nos países da Europa Central e do Sul, aliás, durante os anos 20, 30 e 40. Por cá, infelizmente, subsistiu mais algumas décadas. E a avaliar, sobretudo, pelo extraordinariamente cândido juízo que o RAF faz dos conceitos conservadores (?!), duvido muito que se tenha finado.