13.6.06

PIAS ASNEIRAS DA DIREITA

Nos últimos anos espalhou-se a crença de que a direita tinha de assumir o "sagrado" no seu discurso nem que este surgisse mascarado de superstição. No mundo ocidental não-católico terá sido o próprio Reagan a iniciar essa aproximação, embora, no seu tempo, os fundamentalistas cristãos tenham sido mantidos dentro de apertados limites.
Mas George W. Bush não seguiu o seu exemplo - um dos seus maiores erros foi ter escancarado as portas da política americana a tunantes como Pat Robertson e muitos outros alucinados. Hoje em dia, a batalha contra a Ciência - por exemplo, com as aberrantes teorias criacionistas agora em nova embalagem - é a prioridade de muitos destes grupos subitamente guindados a importantes postos de decisão. ###
Nos países da Europa do Sul, cedo começaram os mimetismos grosseiros desse lado negro da política americana. O "conservadorismo compassivo" e as alianças estratégicas com grupos organizados de fanáticos com uma agenda determinada, marcaram o tom de largos sectores da direita europeia. Sem grande sucesso, no entanto. Nos poucos casos em que alcançaram o poder fizeram-no em aliança com outras forças mais moderadas e bastante desinteressadas em prosseguir políticas que conflituavam directamente com a Modernidade. Acresce que, noutros casos (Portugal, Itália), a governação destas forças políticas foi de tão fraca qualidade que redundaram na vitória de partidos de esquerda.
Depois, havia a América Latina. Logo começou a medrar uma versão bem-pensante que garantia que só um discurso político de timbre religioso poderia fazer face ao populismo esquerdista de Chávez, Lula e Morales. Que é como quem diz, para vencer aldrabões assim temos de encontar outros ainda piores (embora envoltos em vestes de grande responsabilidade como é dos livros).
O Brasil servia à perfeição para essa experiência política - tem uma larguíssima tradição de crendice milagreira, é geneticamente avesso à razão, aos valores do trabalho e da responsabilidade (de onde é que isso virá?), a média da sua população é extremamente ignorante acerca de questões políticas, enfim, o Brasil parecia ser terreno fértil para relançar o "novo" discurso conservador eivado da velha superstição.
O panorama, de facto, era propício ao sucesso de uma alternativa a Lula da Silva - a sua governação é um verdadeiro desastre. Praticamente todos os seus programas falharam rotundamente. Os níveis de corrupção conseguiram - pasme-se - ultrapassar os dos governos anteriores. E não é só o caso "mensalão", muitos outros têm assombrado a administração Lula. O floclore "petista" gera descrença e sentimento de "mesmice" em relação ao passado.
Foi neste contexto que se lançou a candidatura do governador Geraldo Alckmin. Parecia ser a solução adequada à situação e às intenções experimentalistas de "renovação" militante da direita.
Neste momento, a poucos meses do início da campanha (meados de Agosto), as perspectivas são as piores: Alckmin não cresce e Lula não só aguenta como, inclusivamente, a candidatura adversária parece tê-lo fortalecido.
Por mim, não estou admirado. Geraldo Alckmin não tem dito a verdade acerca de si próprio e esse é o maior pecado de um político em vésperas de eleições. É membro da seita fundamentalista Opus Dei e não o revelou. Entrevistado acerca dessa sinistra ligação tentou evitar respostas claras. Depois, preferiu mentir, como o fez numa célebre entrevista à revista "Veja". Agora, quando tudo parece quase perdido, a patente falta de carisma de Alckmin e a sua lamentável conexão a um grupo fundamentalista estão a precipitar esforços desesperados para o substituir como próximo adversário de Lula.
Este fim anunciado deve-nos ensinar algo útil - a direita merece representar um espaço de Liberdade, progresso e de racionalidade, por oposição ao populismo e à crendice indistinta em que a esquerda folclórica das marchas anti-tudo-e-mais-alguma-coisa resvalou.
A direita reaccionária tem os dias contados. Os seus valores pertencem irremediavelmente ao passado, independentemente do embrulho em que estes se enfiem. Não faz sentido enfrentarmos o séc. XXI com uma visão do mundo semelhante à de Franco e Salazar há 80 anos, tentar conformar a nossa existência colectiva num retrocesso tolo e anacrónico. Os desígnios da direita do futuro terão de se firmar no espaço do conhecimento, da Ciência, do desenvolvimento e do bem-estar, dos direitos fundamentais e na defesa constante das múltiplas acepções da Liberdade face a todos os que constantemente a ameaçam - o Estado e os outros que querem tomar conta dele para fazer com que o tempo volte para trás.
Não o compreender é fazer o maior favor possível aos Lulas e Chávez daquém e dalém mar...