No actual sistema, os pais já participam na escola quando fazem parte da associação de pais, quando têm a possibilidade de falar com o director de turma durante 1 hora uma vez por semana e quando se reúnem 3 vezes ao ano com o mesmo para discutir assuntos da escola. Num sentido lato, qualquer destes momentos de participação dos pais na escola serve perfeitamente para os pais avaliarem os professores e dizerem de sua justiça.
Esse tipo de participação não tem qualquer efeito prático pela simples facto de os pais não serem clientes da escola. Como não são clientes, como a escola não depende deles para pagar salários, ninguém lhes liga.
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Mesmo num sistema liberal em que o ensino seja exclusivamente prestado por privados, os pais não são clientes dos professores. Em primeiro lugar, e mais importante, o professor não tem um contrato de trabalho com os pais: tem um contrato de trabalho com a escola.
Numa escola privada, um professor que seja incompetente sai da escola antes que saia algum aluno. A pressão dos pais exerce-se directamente sobre o professor pelo simples facto de que nem a escola nem os pais estão interessados em que o aluno mude de escola. Por isso, o professor tem que tratar os pais como se eles fossem os seus clientes.
Em segundo lugar, há que ter em conta que as aulas são dadas em turma a 20 ou 30 alunos com características e objectivos diferentes, pelo que o professor, se quer ensinar o que quer que seja, terá de distribuir a sua atenção por todos. Tal significa necessariamente que não poderá satisfazer todos os desejos de cada pai, porque inevitavelmente tal significará sacrificar os desejos dos outros pais.
Isso é irrelevante para a eficiência da avaliação por duas razões: primeiro porque esse efeito é igual para todos os professores e o que interessa para a avaliação é a posição relativa dos professores e não a posição absoluta (isto porque há quotas dentro da escola para as notas acima de Bom). E depois porque esse efeito anula-se após o cálculo da média estatística das avaliações de todos os pais.
No mesmo sentido, a autoridade do professor é funcional: serve para o professor poder realizar a prestação que lhe pode ser exigida - ensinar - e para os alunos poderem aprender.
A função da autoridade do professor é irrelevante. O que interessa é que ele só terá autoridade se a conseguir conquistar, excepto se se voltar ao tempo do Estado Novo. Mas parece-me que esta última alternativa é impossível e indesejável.
Daí que as sanções que lhe devem ser permitidas aplicar
Creio que na maior parte dos casos, os professores não podem aplicar
Isto mesmo foi dito pela Fátima Bonifácio, no programa de ontem sobre violência nas escolas, com inteira razão.
A Fátima Bonifácia defendeu que a avaliação dos professores mina a sua autoridade porque inverte a relação de poder. O professor deixa de ser o representante do estado na escola para se tornar num prestador de serviços aos pais. O problema da Fátima Bonifácio é que ela defende um modelo que é incompatível com uma sociedade aberta em que o que tem valor é determinado de forma descentralizada pelo cliente.
A avaliação externa de que o JM fala é, obviamente, insuficiente por si só.
O problema é que a avaliação interna é pouco fiável e inútil. É pouco fiável porque os professores avaliam em causa própria. E é inútil porque não pode ser comparada com a avaliação interna feita noutra escola por outro professor. Uma avaliação que não é fiável nem pode ser comparada com outra noutra escola até pode ser muito necessária, mas é necessária para quê? Não pode ser usada para a seriação dos alunos a nível nacional, e a seriação dos alunos a nível nacional é a única coisa que os pais gostariam de influenciar.
Qualquer bom sistema de avaliação de alunos terá de atender a outros indicadores, para além dos exames, como seja o cumprimento por parte dos alunos do dever de fazerem os TPC, a participação nas aulas (fazer contas no quadro, ler textos em inglês, desenhar nas aulas de desenho), a assiduidade e, eventualmente, a disciplina.
Mesmo que essa avaliação seja necessária e possa ser suficientemente objectiva para servir para alguma coisa, o seu peso é desprezável comparado com a avaliação que pode ser feita por exames. Actualmente nenhum professor atribui um peso maior que 10% a esses factores. Isto quer dizer que é possível construir um sistema de avaliação em que o papel do professor que ensina é tão pequeno que os pais dos alunos não tenham incentivos para penalizar os professores. Para além do mais, a avaliação dos professores pode ser feita de forma anónima antes da última avaliação dos alunos reduzindo-se os incentivos dos pais para penalizar os professores injustamente. (a avaliação dos professores pelos alunos nas universidades é feita anonimamente antes do exame final).
Num preferível sistema liberal
Pensei que estavamos a tentar ser realistas ... Não me pode acusar de ser utópico e depois defender que o sistema ideal seria um sistema liberal. Nisso estamos de acordo. Mas num sistema público, a avaliação dos professores pelos pais por cruzinhas é o único sucedâneo possível da avaliação pelo mercado.
Mesmo num sistema de ensino público, não há razão para os professores não terem que se submeter eles próprios a exames regulares
Nenhuma dessas avaliações substitui a avaliação pelos pais ou a avaliações de acordo com os resultados dos alunos. Estas duas formas de avaliação de que o José Barros não gosta são as únicas que num sistema públicos podem substituir a avaliação pelo mercado porque são as únicas em que é injectada informação externa à escola.
estarem sujeitos a avaliações das suas aulas por parte de inspectores do Ministério ou pelo director da escola.
Isso é a típica medida centralista e autoritária. Quem é que avalia os inspectores do Ministério? Onde é que os inspectores do Ministério recebem o input do cliente?