1.6.06

Re: A má ideia da avaliação dos professores pelos pais

Resposta ao José Barros(algumas citações são parciais, por favor leiam o original):

No actual sistema, os pais já participam na escola quando fazem parte da associação de pais, quando têm a possibilidade de falar com o director de turma durante 1 hora uma vez por semana e quando se reúnem 3 vezes ao ano com o mesmo para discutir assuntos da escola. Num sentido lato, qualquer destes momentos de participação dos pais na escola serve perfeitamente para os pais avaliarem os professores e dizerem de sua justiça.

Esse tipo de participação não tem qualquer efeito prático pela simples facto de os pais não serem clientes da escola. Como não são clientes, como a escola não depende deles para pagar salários, ninguém lhes liga.
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Mesmo num sistema liberal em que o ensino seja exclusivamente prestado por privados, os pais não são clientes dos professores. Em primeiro lugar, e mais importante, o professor não tem um contrato de trabalho com os pais: tem um contrato de trabalho com a escola.

Numa escola privada, um professor que seja incompetente sai da escola antes que saia algum aluno. A pressão dos pais exerce-se directamente sobre o professor pelo simples facto de que nem a escola nem os pais estão interessados em que o aluno mude de escola. Por isso, o professor tem que tratar os pais como se eles fossem os seus clientes.

Em segundo lugar, há que ter em conta que as aulas são dadas em turma a 20 ou 30 alunos com características e objectivos diferentes, pelo que o professor, se quer ensinar o que quer que seja, terá de distribuir a sua atenção por todos. Tal significa necessariamente que não poderá satisfazer todos os desejos de cada pai, porque inevitavelmente tal significará sacrificar os desejos dos outros pais.

Isso é irrelevante para a eficiência da avaliação por duas razões: primeiro porque esse efeito é igual para todos os professores e o que interessa para a avaliação é a posição relativa dos professores e não a posição absoluta (isto porque há quotas dentro da escola para as notas acima de Bom). E depois porque esse efeito anula-se após o cálculo da média estatística das avaliações de todos os pais.


No mesmo sentido, a autoridade do professor é funcional: serve para o professor poder realizar a prestação que lhe pode ser exigida - ensinar - e para os alunos poderem aprender.

A função da autoridade do professor é irrelevante. O que interessa é que ele só terá autoridade se a conseguir conquistar, excepto se se voltar ao tempo do Estado Novo. Mas parece-me que esta última alternativa é impossível e indesejável.

Daí que as sanções que lhe devem ser permitidas aplicar

Creio que na maior parte dos casos, os professores não podem aplicar sansões sanções. E ainda bem. Num sistema público esse é o procedimento mais correcto. Quem as aplica é o Conselho Executivo da escola depois de ouvir todas as partes. O professor é apenas testemunha ou queixoso no processo. Mas não seria difícil eliminar da avaliação os pais com quem o professor esteja em conflito por esse motivo específico. Logo, essa objecção à avaliação dos professores pelos pais é perfeitamente contornável.

Isto mesmo foi dito pela Fátima Bonifácio, no programa de ontem sobre violência nas escolas, com inteira razão.

A Fátima Bonifácia defendeu que a avaliação dos professores mina a sua autoridade porque inverte a relação de poder. O professor deixa de ser o representante do estado na escola para se tornar num prestador de serviços aos pais. O problema da Fátima Bonifácio é que ela defende um modelo que é incompatível com uma sociedade aberta em que o que tem valor é determinado de forma descentralizada pelo cliente.

A avaliação externa de que o JM fala é, obviamente, insuficiente por si só.

O problema é que a avaliação interna é pouco fiável e inútil. É pouco fiável porque os professores avaliam em causa própria. E é inútil porque não pode ser comparada com a avaliação interna feita noutra escola por outro professor. Uma avaliação que não é fiável nem pode ser comparada com outra noutra escola até pode ser muito necessária, mas é necessária para quê? Não pode ser usada para a seriação dos alunos a nível nacional, e a seriação dos alunos a nível nacional é a única coisa que os pais gostariam de influenciar.

Qualquer bom sistema de avaliação de alunos terá de atender a outros indicadores, para além dos exames, como seja o cumprimento por parte dos alunos do dever de fazerem os TPC, a participação nas aulas (fazer contas no quadro, ler textos em inglês, desenhar nas aulas de desenho), a assiduidade e, eventualmente, a disciplina.

Mesmo que essa avaliação seja necessária e possa ser suficientemente objectiva para servir para alguma coisa, o seu peso é desprezável comparado com a avaliação que pode ser feita por exames. Actualmente nenhum professor atribui um peso maior que 10% a esses factores. Isto quer dizer que é possível construir um sistema de avaliação em que o papel do professor que ensina é tão pequeno que os pais dos alunos não tenham incentivos para penalizar os professores. Para além do mais, a avaliação dos professores pode ser feita de forma anónima antes da última avaliação dos alunos reduzindo-se os incentivos dos pais para penalizar os professores injustamente. (a avaliação dos professores pelos alunos nas universidades é feita anonimamente antes do exame final).

Num preferível sistema liberal

Pensei que estavamos a tentar ser realistas ... Não me pode acusar de ser utópico e depois defender que o sistema ideal seria um sistema liberal. Nisso estamos de acordo. Mas num sistema público, a avaliação dos professores pelos pais por cruzinhas é o único sucedâneo possível da avaliação pelo mercado.


Mesmo num sistema de ensino público, não há razão para os professores não terem que se submeter eles próprios a exames regulares

Nenhuma dessas avaliações substitui a avaliação pelos pais ou a avaliações de acordo com os resultados dos alunos. Estas duas formas de avaliação de que o José Barros não gosta são as únicas que num sistema públicos podem substituir a avaliação pelo mercado porque são as únicas em que é injectada informação externa à escola.

estarem sujeitos a avaliações das suas aulas por parte de inspectores do Ministério ou pelo director da escola.

Isso é a típica medida centralista e autoritária. Quem é que avalia os inspectores do Ministério? Onde é que os inspectores do Ministério recebem o input do cliente?