2.6.06

utopia liberal vs. bom senso estatista

Que o liberalismo é uma impraticável utopia, já ninguém tem dúvidas. Que insistir na desregulação da vida social, na liberdade individual, na preferência pelo mercado e na livre composição dos interesses individuais e sociais, na restituição da propriedade aos cidadãos, ilegitimamente limitados no pleno gozo do que é seu por herança ou por rendimento de trabalho, na incapacidade do Estado se substituir ao indivíduo, na inutilidade da esmagadora maioria dos serviços públicos, é uma assustadora falta de bom senso e, no limite, de honestidade intelectual. Se alguma vez gente desta chegasse a conquistar um módico de poder público, a terra tremeria e os oceanos e os mares entrariam em ciclópica convulsão.
Em contrapartida, no estatismo, em qualquer das suas inúmeras e ricas modalidades, continua a residir a virtude. Garantir, como fazem as nossas Constituições ocidentais do século XX, que todos temos direito a cuidados de saúde gratuitos, a uma habitação condigna, à educação sem a pagarmos, a uma justiça rápida e segura, a uma administração pública competente e célere, ao acesso diversificado e plural a bens culturais, ao ambiente, ao pleno emprego, ao gozo de uma reforma digna e em tempo útil para ser usufruída, tudo isto são propostas sérias, vindas de gente sensata. Como, de resto, as últimas décadas bem o têm demonstrado.