20.3.05

EXPLICAÇÕES MAL AMANHADAS E A HABITUAL SOBRANCERIA DE QUEM NÃO PRESTA PARA MAIS

Segundo Mário Mesquita e Ana Sá Lopes a sua proposta de um Governo exclusivamente feminino, apresentada há uma semana no Público, foi «um inesperado sucesso» medido pela quantidade de mensagens em correio electrónico e via SMS (?!) que receberam para além dos «insultos em blogues anónimos» supostamente demonstrativos do êxito do executivo almejado por MM e ASL.
Depois de vencida alguma estranheza pelo modo dos referidos autores descortinarem o poder de persuasão da sua escrita, tentei perceber de quem falavam ao designarem genericamente de «anónimos» os blogues a quem a composição peregrina daquele executivo não agradou.
Não podia ser o Blasfémias porque ninguém aqui é anónimo no sentido de esconder a sua identidade. Alguns de nós, como é o meu caso, assinamos com as iniciais mas não escondemos quem somos e quem nos lê sabe quase tudo sobre nós. E quando discordei do texto de MM e ASL contive-me e não insultei ninguém.
Então, anónimos deveria significar que esses blogues não pertencem a gente do "meio", daqueles que vivem disso, dos mesmos com quem os autores amiúde esbarram ombro-a-ombro na feroz disputa de um croquete nos lugares por onde os não-anónimos andam no perpétuo esforço de serem conhecidos. Se for assim, tá bem, não somos desses. Somos gente comum que tem profissão, cultiva opinião e gosta de a escrever sem mais nem porquê. E cujo blogue, aliás, é 6 ou 7 vezes mais lido e conhecido do que o de um desses mesmos autores.

Mas esta tese explicativa do artigo do passado Domingo é ainda mais absurda do que a proposta que visa sustentar: afinal, tudo não passava de uma «ironia (...) incompreensível para uma parte da sociedade portuguesa». E que as pias intenções dos autores se resumiam a provar que «não seria difícil encontrar número suficiente de pessoas [leia-se, do género feminino] para permitir constituir um Governo equilibrado».
Com a sobranceria habitual, os autores resolveram passar um certificado de obtusidade à generalidade dos seus leitores, insindicavelmente culpados de não conseguirem alcançar a elevadíssima finura do seu humor.
Depois, insistem no argumento de que o número «equilibrado» do género é, automaticamente, equivalente à qualidade do Governo - i.e. quanto mais paridade de sexo existir, melhor será o executivo!
Este argumento é tão estafado que aborrece a generalidade das mulheres e dos homens que o lêem. Para mais, no artigo em causa, foi usado de forma tão grosseira (repito: aquele elenco parecia um filme de terror)que só os próprios ainda não entenderam que reverte contra tudo o que dizem defender. Ao ousarem propor aqueles nomes encheram de carradas de razão o actual primeiro-ministro que, prudentemente, os recusou.
E foi apenas isso que fez os autores enredarem-se em explicações mal amanhadas e apontando uma ironia onde só existia presunção e cegueira em relação ao mundo em que estão.