18.3.05

Na escolinha (Universidade) do Mestre André...

"Para combater o abandono escolar, o Governo preconiza a transição de um sistema de ensino baseado na ideia da transmissão de conhecimentos para o desenvolvimento de competências.

Ainda nesta área, pretende reforçar a importância da dimensão pedagógica no desempenho docente, rever o Estatuto da Carreira Docente e criar um sistema de contratos-programa com as instituições
".

Aparentemente, considerando a "economia global" da notícia da SIC, julgo que tais objectivos do Governo ("desenvolvimento de competências", "dimensão pedagógica no desempenho do docente", "sistema de contratos-programa"...de e para quê?) têm em vista o ensino superior.

As intenções são boas (porém, delas, das "boas intenções" está o inferno cheio...); os termos do discurso são (no plano do discurso) inatacáveis. Mais ainda: dificilmente poder-se-á contestar a necessidade do reforço da "dimensão pedagógica" no ensino superior, relativamente a muitos docentes universitários; toda a gente pugna por uma efectiva interpenetração da Universidade com o "mundo empresarial" ou outro qualquer; há um consenso no sentido de que o ensino deverá ser mais "prático" e contextualizado na realidade envolvente (para alguns pedagogos e filósofos da educação, trata-se de atentar, com particular acuidade, no denominado "paradigma ecológico" do ensino, da escola, do aluno, etc., etc.).

Não serei eu a pretender pôr em causa esta cartilha de boas intenções e este discurso pleno de objectivos inatacáveis (talvez, "politicamente correctos")....

Porém, quando ouço falar em coisas como sistema de ensino (e, consequentemente, de AVALIAÇÃO) baseado não na ideia de "transmissão de conhecimentos", mas sim na de "desenvolvimento de competências", quando vejo ser enfatizada (no ensino superior) a questão da "dimensão pedagógica", assim como outros chavões recorrentes, fico simultaneamente na expectativa e muito (mesmo muito) receoso!

Já são "paradigmas" recorrentes e, normalmente, vazios de conteúdo ...se não mesmo, dissuasores da busca um elevado nível de competências, de rigor e de evolução (repito, no ensino superior). Tenho sempre a sensação de que o caminho será, nestes termos, o da "infantilização" da Universidade! Pelo menos, temo por esse risco...

E, a propósito, recordo um dos meus antigos professores de Economia (o Professor Simões Neto) que dizia recorrentemente que "não há melhor prática do que uma boa teoria, nem melhor teoria do que uma boa prática; por isso, lá no fundo, não há que distinguir o que é isso de conhecimento prático e teórico"....

Ou se sabe, ou não - para quê, por vezes, complicar-se tanto a realidade das coisas?!