7.6.06

ESTADO DE NEGAÇÃO

Prossegue a campanha internacional de restyling da degradada imagem do grupo de fanáticos da Opus Dei de que já falei aqui. Campanha essa, cada vez mais desesperada e patética.
As reportagens "noticiosas" sucedem-se por todo o lado, num esforço de tentar demonstrar que essa seita de desvairados religiosos não são nada daquilo que, desde a Guerra Civil de Espanha, se sabe que são. Mas, afinal, tudo o que conseguem provar é o que há muito já se tornou uma evidência: a novela de Dan Brown não corresponde aos factos históricos e o autor, despudoradamente, abusa de extrapolações e confusões de todo o tipo para apimentar a coisa.
Mas, realmente, mesmo deste mal pode resultar o bem, como já li algures - graças a um livro medíocre, o estertor dos fundamentalistas é um espectáculo delicioso.
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O modo como, um pouco por todo o mundo, os mesmos que tanto falaram na "liberdade de expressão" aquando da polémica acerca da exibição do filme "A Paixão de Cristo", enquanto que, agora, apelam ao boicote ao "Código Da Vinci", tentando até proibí-lo em alguns países, é manifestamente revelador.
Mas o esforço mais ridículo de todos é a tentativa impossível de normalizar os rituais de auto-flagelação física.
Primeiro, dizem que não foram eles que a inventaram - verdade insofismável mas inconsequente.
Depois, garantem que é uma prática católica comum - o que escandaliza qualquer indivíduo que conheça minimamente o quotidiano de uma sociedade maioritariamente católica como a portuguesa
Finalmente, parecendo libertarem-se de qualquer noção do caricato em que estão e do riso que provocam em qualquer observador comum, ensaiam uma argumentação inacreditável tendente a demonstrar que o cilício, afinal, é uma espécie de suave carícia feita de arame farpado, enquanto que a "disciplina" deixa de ser uma chibata para se transformar numa nova forma de coçar as costas de alguma arreliante comichão...
Aliás, algumas destas reportagens de marketing que, presentemente, estão a ser feitas em todo o mundo de forma mais ou menos mimética, enfermam de algumas contradições insanáveis:
- por exemplo, nesta, que o excelente O Insurgente, pressurosamente, dá eco, não pude deixar de reparar que a "disciplina" que é exibida no início da peça é virulentamente distinta daquela espécie de feixes de cordões de lã grossa com que aquele divertido senhor chinês acaricia o repórter da CNN...
Por mim, para além do enorme gozo que me provoca o grotesco esbracejar desta seita de mortificadores, depois do vento amainar, julgo que esta gente deve ser deixada em paz - desde que eles façam o mesmo.
Eles que se açoitem, que se fustiguem das formas que lhes provoquem o maior grau de deleite pessoal possível - desde que não se metam nas minhas opções de vida. Desde que não tentem conformar a sociedade em que estou à medida da visão da sua chibata. Desde que não enfraqueçam o conhecimento e Ciência, i.e. o verdadeiro caminho que nos elevou até à Modernidade. Desde que não se esforcem por inculcar os seus desvalores nas minhas opções comportamentais.
Que façam aquilo que lhes der mais prazer, é o que desejo - mas não perturbem as minhas escolhas.