30.8.06

KONIËC

O DN de hoje apresenta um estudo sobre o conjecturado desvanecimento do sonho americano, aqui e aqui. Parte das conclusões até têm direito a Editorial.
Muito texto, alguns gráficos e opiniões bem sortidas, falam nas causas e nos terríveis efeitos do problema. Sobretudo na inevitável desigualdade. E na miséria evidente. E nas óbvias vantagens comparativas dos modelos socializantes da Escandinávia. Quase tudo parece ser mau nos States. E mesmo quanto aos defeitos portugueses, percebe-se um convite implícito para se deduzir que estes acontecem naquilo em que, indevidamente, imitamos os yankies em vez de seguirmos os exemplares escandinavos :«Portugal aproxima-se dos EUA na desigualdade de rendimentos». Pois é. Estamos mal, muito mal. "Aproximamo-nos" dos americanos: horror!
Mas que lógica fantástica a destes estudos! E muito elucidativa. Principalmente para quem nunca lá viveu ou julga poder abarcar a realidade norte-americana através de 3 ou 4 estudos avulsos.
Recordei-me de outros estudos similares que eram mais ou menos comuns há cerca de 20 anos. Com menos gráficos e pior suportados estatisticamente, bem entendido. Mas em que as vantagens competitivas iam direitinhas para os países do lado de lá da "cortina de ferro". Já então, nessas análises bondosamente comprometidas, os USA eram a terra onde primava a pobreza, a necessidade, o egoísmo e as múltiplas vertentes sinistras da "lei da selva". Um dos piores lugares do mundo para se viver. Um way of life condenado pela história e a evitar a todo o custo.
Ao contrário, na Checoslováquia, Roménia, Albânia e na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, entre tantos outros lugares, brilhava um Sol igual para todos, o papel do Estado era impecável, a educação era admirável e a felicidade dos povos evidente. Estudos e peritos assim o garantiam. A minha geração, em particular, era pacientemente ensinada sobre a manifesta riqueza social dos desenhos animados húngaros e checoslovacos quando confrontados com os gatafunhos violentos da Disney e da Looney Tunes - e lá estava a inefável figura de Vasco Granja a garantir isso mesmo.
Depois, também essa quimera caiu. Mas não os seus impulsos e motivações. Os inimigos de ontem permanecem os mesmos, quanto mais não seja para que aquela geração mantenha os seus sonhos - apesar da realidade. Os modelos a seguir é que se vão suavizando. Q.b. ...

P.S. Sobre a presente alucinação de contrafacção escandinava que percorre o país, ler o artigo de José Manuel Moreira "Notas da Escandinávia".