28.8.06

A LUTA CONTINUA ! (sob qualquer pretexto...)

Dizem os especialistas que a investigação genética em geral e a que é feita em células estaminais em particular, é aquela mais potencialidades oferece num conjunto muito sério de áreas médicas. Mas desde que tal oportunidade se entreabriu à Ciência as razões de sempre - esgrimidas pelos mesmos de sempre - são despejadas às carradas. Objecções sempre escudadas em supostas considerações morais que estarão, no entender dos seus seguidores, para além de qualquer discussão racional.
Em relação à investigação em células estaminais, preocupava-os - diziam - a integridade do embrião. Este poderia ficar afectado e, em todo o caso, estava em risco de ser destruído. O que - asseguravam - era inadmissível mesmo na sua fase inicial de desenvolvimento.
Como de costume, legislações de todo o mundo civilizado acolheram estas pias apreciações e limitou-se conscientemente o aperfeiçoamento de técnicas que poderiam salvar muitas vidas humanas. Hipocritamente, já que, noutros contextos, embriões nessa mesma fase são destruídos sem que ninguém pareça importar-se.
Mas na semana passada houve um avanço, enfim, uma das características mais aborrecidas do conhecimento científico para os seus habituais adversários : investigadores do Advanced Cell Technology demonstraram teoricamente a possibilidade de extrair células estaminais (capazes de se multiplicarem) sem que o embrião seja minimamente afectado. ###
Mesmo para alguns que persistem em realizar quotidianamente o difícil equilíbrio entre o gosto pelo conhecimento científico e a obediência aos códigos de conduta pré-modernos que algumas religiões e seitas impõem aos seus acólitos, a questão dos entraves ditos éticos parecia estar, finalmente, resolvida. E a investigação científica mais promissora para a vida humana no nosso tempo poderia ter via aberta sem refutações sérias.
Puro engano.
Só quem queira desconhecer a história e as razões que fundamentavam essa contestação, poderia almejar uma esperança assim. O Monsenhor Sgreccia, da Academia Pontifícia para a Vida, já esclareceu na rádio Vaticano «que não», que as objecções se mantêm, agora em nova embalagem.

O argumento da perenidade do embrião já não serve? Não importa, inventa-se outro que haverá sempre quem acredite! Sgreccia explicou que «mesmo aquela célula removida do embrião, ainda que única, poderia dar origem a um ser humano...». Confesso que este argumento me fez recordar aqueloutro, já antigo mas sempre repristinável, que baseando-se em razões similares condenava as práticas da masturbação...
A reserva mental é evidente. Desmanchada a razão que, até aqui, foi apontada como o grande entrave à investigação em células estaminais, impudicamente, arranja-se outro. Mal reciclado e sem sombra de lógica. Mas nada disso importa para as igrejas católica e evangélicas. Necessário é parar a investigação, emperrar o conhecimento, continuar a velha luta contra a Ciência. Em caso algum o homem poderá ter uma sensação de se bastar a si mesmo, de encontrar em si, no seu conhecimento e na sua razão, a sanação das suas ancestrais inquietações. Nunca se poderá cumprir o vaticínio divino deixado no Génesis (3.22)...
Sempre que a Ciência está em vias de conseguir dar um passo significativo, quando parece que o conhecimento vai irremediavelmente deixar para trás os medos e as inquietações de que se alimentam a ignorância e a superstição, logo percebemos que aqueles que julgam ter a Verdade na sua mão direita, os que se arvoram em defensores exclusivos e insindicáveis da ética, da bioética e de todas as vertentes figuráveis da moral, não irão deixar que a coerência dos argumentos que aduziram até à exaustão, durante anos e anos, possa vir a atrapalhar a sua santa guerra...