23.8.06
Por decreto da Santa Madre Organização...
Após solicitação nesse sentido do seu partido, o presidente legítimo da Câmara Municipal de Setúbal renunciou ao mandato e já foi substituído por alguém devidamente aprovado pelas hierarquias. O caso espanta pela raridade. Pela desconformidade patente com o espírito que se julga ser o do nosso tempo. O comportamento normal em democracia é que os autarcas eleitos cumpram os seus mandatos até ao fim ainda que o seu desempenho possa não agradar às estruturas partidárias cujas listas integraram.
Mas o partido comunista é diferente. Sempre o foi. E as múltiplas evoluções das sociedades democráticas não impressionaram demasiado aqueles que ainda mantêm viva a sua "fé". Bem como a correspectiva e omnipresente "obrigação de obediência" às determinações hierarquicamente estabelecidas. Porque os comunistas têm de obedecer, quer se declarem tristes ou em êxtase de contentamento servil.
Mais do que típicos de um partido político numa democracia sedimentada, este e outros comportamentos dos dignitários comunistas assemelham-se a condutas características de uma igreja. No mínimo, de uma ordem religiosa. Ou de uma seita. A "fé" chama-se "ideal" e os "camaradas" são os "irmãos". ###
Mas o que importa é obedecer. Nessas organizações, o indivíduo desvanece-se, o livre arbítrio transforma-se num luxo perigoso e condenável e todos se acomodam diante das imposições da organização ainda que delas discordem ou que pessoalmente lhes repugnem.
Carlos Sousa, embora contrariado, obedeceu. Como bom comunista fez o que dele era esperado. Tal como um supranumerário da Opus Dei ou de outra organização de natureza similar. A obediência absoluta não é uma doutrina - é uma forma de ser de que comungam entidades aparentemente distantes.
A Ordem de Carlos Sousa, a sua Seita, mandou e ele cedeu. Pode ser, caso consiga resistir aos seus impulsos mais humanos, que ainda possa almejar a prometida salvação terrena...