31.8.06

três notas sobre a direita

Pedro Ferraz da Costa admite no Público de hoje (link directo indisponível) a possibilidade de patrocinar a criação de um partido de direita, por insatisfação em relação aos que já existem. O partido seria «liberal, muito mais moderno do que conservador» e juntar-se-ia aos três que já andam vagamente por essas águas: o PSD, o CDS e o renovado PND, que parece ter concluído agora, ao fim de três anos de fulgurante existência, ser efectivamente um partido de direita. Apesar de ser um homem inteligente, a quem a direita deve alguma coisa e poderá vir a dever mais ainda, a verdade é que em matéria de criação de partidos políticos liberais, o dr. Ferraz da Costa é como o outro: não anda, nem sai de cima. Pelo menos desde há vinte anos atrás, quando provavelmente deveria ter feito o que agora anuncia pela milionésima vez que irá fazer. Neste particular assunto da criação de novos partidos, o prazo político do dr. Ferraz da Costa já há muito terminou.

Mantendo o registo numa análise freudiana, a direita portuguesa parece, nesta rentrée, uma jovem lasciva de sexualidade recalcada: muitos a querem, mas ninguém se chega à frente e ela, pelo seu lado, quer oferecer-se mas não sabe como. O dr. Portas no CDS e o dr. Borges no PSD prometem mas não cumprem, enquanto que os respectivos directórios oficiais continuam sem dizer ao país o que têm para lhe oferecer: se mais do mesmo, se coisa diferente daquilo a que nos têm habituado. A continuar por este caminho, não será nas próximas legislativas que a direita perderá de novo a inocência e poderá regressar ao libidinoso cadeirão do poder, onde, da última vez que por lá passou, se estirou languidamente sem proveito para ninguém.

Saiu hoje o número 18 da Revista Atlântico. Apesar de criticável, como tudo na vida, a revista tem vindo a melhorar substancialmente de número para número e possui a incontornável virtude de ter conseguido reunir num só projecto um excelente grupo de colaboradores, representativo do melhor que a direita portuguesa consegue culturalmente produzir. Diga-se, também, que nestes dois anos que leva já a «refundação» da direita indígena, a Atlântico foi a única novidade a merecer registo. É pouco? Pois é, mas é o que há. Parabéns, portanto, ao Paulo Pinto Mascarenhas e a toda a equipa.