O Doutor João Carlos Espada assina hoje no «Expresso» (link indisponível) um artigo notável de bom-senso, bom-gosto, de sentido e de oportunidade política, sobre os «gentlemen's clubs» londrinos e o espírito elitista tradicional que lhes está associado.
Aproveita o autor para distinguir estas elites das «elites pós-modernas», sendo que as últimas, ao contrário das primeiras, possuem «um estilo andrajoso: não usam gravata, não vestem casaco, e apresentam-se descalços com umas xanatas arrepiantes», quando se instalam em «hotéis de luxo» ou viajam na «primeira classe» dos aviões comerciais.
Ora, como bem refere o Doutor Espada, «nos clubes de Londres as coisas passam-se de maneira diferente. Qualquer que seja a época do ano, o código de vestuário é sempre o mesmo: casaco e gravata para os homens, e algo correspondente para as senhoras. «Blue-jeans» e sapatos de ténis, para não falar de xanatas, são estritamente proibidos».
Por último, neste esforço ciclópico de nos educar, o Doutor Espada tenta fazer-nos compreender («tarefa difícil», avisa) esta mentalidade aristocrática dos clubes londrinos, explicando-nos que eles «emergiram gradualmente e sem qualquer plano centralizado, a partir de grupos de pessoas que simplesmente queriam usufruir confortavelmente da companhia umas das outras». Entre elas, das que usam «chapéu-de-coco, fatos às riscas e guarda-chuva».
Obviamente que esse instinto gregário, em Portugal, manifesta-se a níveis baixíssimos, como, por exemplo, nos clubes de futebol. Não seria concebível, embora fosse desejável, que os sócios do Benfica ou do Porto assistissem de chapéu-de-coco e fatos às riscas aos jogos das suas equipas na «Luz» e no «Dragão», embora os seus dirigentes, pelo menos, os presidentes Luís Filipe Vieira e Jorge Nuno Pinto da Costa, o devessem fazer, a título de bom e civilizado exemplo. Como, também, é repugnante assistir ao espectáculo das nossas elites desregradas apresentarem-se em xanatas no «Gigi», sem fatos às riscas no VilamouraHotel ou sem guarda-chuvas na Praia dos Tomates.
Contudo, passe o Doutor Espada de xanatas pelo Turf e pelo Grémio Literário em Lisboa, ou pelo Clube Portuense no Porto, e vai ver como os porteiros lhe serão amáveis.
Nestas coisas, como em muitas outras, há que não confundir e muito menos generalizar.
