Quanto mais sinais de desagregação apresenta o estado espanhol mais se fala de Península Ibérica. Os recentes incêndios na Galiza levaram até o autodesignado canal europeu de notícias, Euronews a tratar por atacado ibérico, os incêndios em Portugal e Espanha. Assim repartidos ibericamente os fogos dilui-se um pouco a catástrofe galega.
Para quem quiser perceber os efeitos da criação e imposição administrativa dos nacionalismos em Espanha o caso galego é exemplar: o actual governo da Galiza, resultante duma coligação entre socialistas e uma espécie de bloco nacionalista de esquerda local, não só desmembraram a antiga estrutura de combate a incêndios como fizeram do domínio do galego uma condição para admitirem os novos funcionários.
Como em Portugal se fazem notícias sobre Espanha lendo exclusivamente o El País - a propósito veja-se o apatetado artigo que o DN dedicou à reformulação deste diário espanhol - pouca ou nenhuma atenção se dá ao facto de quer este ano no caso da Galiza quer o ano passado no incêndio de Guadalajara em que morreram onze pessoas, as autoridades locais e regionais terem atrasado o recurso aos meios e técnicos disponibilizados pelas autoridades nacionais e internacionais. Por amarga ironia do destino quem hoje está no governo da Galiza são os partidos que animaram a Plataforma "Nunca mais" a propósito do Prestige e talvez tenham começado a perceber que não basta saber organizar manifestações e fazer agit-prop
para conseguir governar democraticamente.
Antes que comece o corridinho dos comentários sobre o direito dos bascos, galegos, andaluzes... a serem independentes, acrescento simplesmente que não estou a escrever sobre isso. Escrevi sim que os diversos nacionalismos estão a enfraquecer o estado espanhol. E escrevi também que mediaticamente isso implica em Espanha falar-se cada vez mais de Península Ibérica e de nações e menos de Espanha e Portugal.