24.3.04

MÁRIO SOARES DE MAL A PIOR

Ouvi a interpretação autêntica de Mário Soares acerca da sua extraordinária proposta de «diálogo com Al-Qaeda em vez do uso da força».

Depois de na sua versão originária ter comparado essa organização terrorista com os movimentos de libertação da ex-colónias portuguesas (?!) - aí começamos já a entender melhor o conceito soarista de "negociação" -, agora Soares faz outras analogias, com as Brigadas Vermelhas, os Bhader Meinhof e, também desta vez, com o "caso" Khadafi. Disse que com o ditador líbio se negociou e os resultados estão à vista.

Não partilho desta visão. Em primeiro lugar, porque o terrorismo que emerge da Al-Qaeda me parece substancialmente diferente de quase todos os outros que já conhecemos. Depois porque, ainda assim, na Alemanha foi principalmente através da força que se deu fim aos Bhader Meinhof. Enquanto que na Itália a promiscuidade (negocial?) entre o Estado e o terrorismo esteve na origem do desabar daquele sistema político italiano - e, de todo, não me parece ser um exemplo a seguir.

Quanto a Khadafi, estou convicto que a sua cedência se deveu fundamentalmente ao medo. Nos anos 80 Ronald Reagan pô-lo na ordem duas vezes.
Depois, Khadafi viu o que estava a acontecer a Sadham - ele próprio o referiu publicamente. E mudou de estratégia com o receio de lhe poder acontecer coisa semelhante. Não terá sido o uso directo da força, mas foi a ameaça, a possibilidade bastante real desta poder vir a ser utilizada contra si, que transformou Kadhafi num cordeirinho.
No contexto actual, apelar à negociação é a cedência mais irresponsável que é possível fazer-se.
Até agora, nem Zapatero atingiu esse limite. Aliás, basta ver o pacto de regime entre o PP e o PSOE acerca do combate à ETA.