21.3.04
A PAIXÃO DE CRISTO
Gostei.
Tal como tantos artistas ao longo do Idade Média e de forma especial no Renascimento, Mel Gibson apresenta uma versão, desta vez em forma de filme, da agonia e morte de Cristo na Cruz.
Uma das inovações deste filme em relação a abordagens anteriores é a de que a dor, a violência e o sofrimento de Jesus são relatados de uma forma quase jornalística, mediante a reprodução textual dos Evangelhos. Por isso não é bonito ou agradável de se ver. E plasticamente nada tem de inovador.
Tradicionalmente existiu sempre a opção de dar destaque sobre determinada particularidade da vida de Jesus, fosse sobre os ensinamentos, as parábolas, os milagres, a sua vida pública, o lado de pregador, profeta ou revolucionário. De uma forma ou de outra, anteriores realizadores faziam uma escolha, apresentando a sua interpretação sobre o mais relevante na vida de Jesus.
Mel Gibson tentou ultrapassar essa abordagem, apresentando um relato nu e cru, cingindo-se a uma visão exclusivamente textual dos relatos evangélicos. O filme é simplesmente a forma animada de representar a Cruz. Daí que se compreenderia muito melhor tal intenção se o realizador tivesse levado a sua ousadia até ao fim e não incluísse legendas.
A Cruz de Cristo é o símbolo dos cristãos há quase 2 mil anos. O símbolo de que Deus se fez Homem, viveu, foi morto para a redenção de toda a humanidade e ressuscitou. E é aquele relato que todos os cristãos relembram e revivem quando contemplam a Cruz.
A Cruz é possivelmente o “ícone” mais reproduzido na história da humanidade dos últimos milénios. É a maior “marca” de sempre.
E foi esse símbolo que Mel Gibson tentou agora recuperar sobre a forma de filme.
Duas notas: 1). A beleza de Mónica Belucci distrai da narrativa. 2). não creio que o latim fosse a língua franca entre ocupantes e ocupados naquele tempo, mas sim o grego. Poderá o Roma Antiga ajudar a esclarecer?