Eu até concordo ser motivo de indignação para uma pessoa de bem que outrém se esquive ao cumprimento de deveres que estão legalmente estipulados para todos - não se infira daqui qualquer concordância da minha parte com o nosso sistema fiscal. Mas quer-me parecer que a montanha pariu um rato. Depois de durante anos e anos se terem diabolizado os devedores e evasores fiscais, os grandes (únicos?) responsáveis pelo défice que jamais existiria não fosse a sua pérfida e permanente actuação, verifica-se que:
- As famigeradas listas negras integram apenas pouco mais de 200 contribuintes, uma gota no oceano dos mais de 5 milhões que existem;
- Os montantes em dívida ascendem a pouco mais de 120 milhões de euros, peanuts à beira dos 3,6 mil milhões de défice do Estado em Junho do corrente ano.
Ou seja, nem os portugueses serão maioritariamente evasores como se leva muitas vezes a crer, nem os montantes devidos têm peso relevante nas contas públicas.
Em vez de tanta diabolização e indignação moralista com os devedores de impostos, talvez fosse mais curial preocupar-mo-nos com os recebedores líquidos de impostos. Ninguém sabe o seu número exacto, mas são seguramente algumas centenas de milhares. Também é difícil saber quanto recebem, porque é variada a natureza dos seus proventos - salários, subsídios, financiamentos a fundo perdido, recibos verdes, etc. Mas só em salários - visíveis - já encaixaram até Junho cerca de 7.000 milhões de euros, quase o dobro do défice de estado para o mesmo período.
Vá rapaziada, indignem-se, espumem, vociferem, que têm aqui um motivo mais que relevante.