3.8.06

O dia da infâmia VI

Aí por baixo, há muito comentário espumoso contra os "caloteiros", esses eternos devedores de impostos que vivem à nossa custa, que nos obrigam a pagar por nós e por eles, os grandes responsáveis pela elevada tributação e pelo défice público, etc, etc.

Eu até concordo ser motivo de indignação para uma pessoa de bem que outrém se esquive ao cumprimento de deveres que estão legalmente estipulados para todos - não se infira daqui qualquer concordância da minha parte com o nosso sistema fiscal. Mas quer-me parecer que a montanha pariu um rato. Depois de durante anos e anos se terem diabolizado os devedores e evasores fiscais, os grandes (únicos?) responsáveis pelo défice que jamais existiria não fosse a sua pérfida e permanente actuação, verifica-se que:
  • As famigeradas listas negras integram apenas pouco mais de 200 contribuintes, uma gota no oceano dos mais de 5 milhões que existem;
  • Os montantes em dívida ascendem a pouco mais de 120 milhões de euros, peanuts à beira dos 3,6 mil milhões de défice do Estado em Junho do corrente ano.

Ou seja, nem os portugueses serão maioritariamente evasores como se leva muitas vezes a crer, nem os montantes devidos têm peso relevante nas contas públicas.

Em vez de tanta diabolização e indignação moralista com os devedores de impostos, talvez fosse mais curial preocupar-mo-nos com os recebedores líquidos de impostos. Ninguém sabe o seu número exacto, mas são seguramente algumas centenas de milhares. Também é difícil saber quanto recebem, porque é variada a natureza dos seus proventos - salários, subsídios, financiamentos a fundo perdido, recibos verdes, etc. Mas só em salários - visíveis - já encaixaram até Junho cerca de 7.000 milhões de euros, quase o dobro do défice de estado para o mesmo período.

Vá rapaziada, indignem-se, espumem, vociferem, que têm aqui um motivo mais que relevante.