De nada vale falar-lhes em "identidade cultural", "património" ou o que quer que seja que se afaste do paradigma da sociedade totalmente livre de amarras, que "evolui" sem qualquer interferência.
É uma frase interessante. Uma eventual "identidade cultural" ou um eventual "património" cultural comum precedem o estado. Ou já existem, ou então não será o Ministério da Cultura a criá-los. Tendo em conta que o Ministério da Cultura tem uma dezena de anos e que a intervenção do estado na cultura em larga escala terá quanto muito uma centena de anos, talvez os defensores da intervenção do estado na cultura devessem perder algum tempo a perceber algumas das questões seguintes:
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1. Desde quando é que conceitos como a "identidade cultural" ou o "património" cultural são incompatíveis com uma sociedade «totalmente livre de amarras, que "evolui" sem qualquer interferência»? Será que uma tal sociedade não tem uma identidade cultural?
2. Pode-se dizer que uma sociedade culturalmente dirigida por um Ministério da Cultura tem "identidade cultural"?
3. Como é que foi possível a formação da tal "identidade cultural" sem a intervenção do estado?
4. Como é que se conseguiu criar património cultural sem intervenção do estado? Sem subsídios do Ministério da Cultura?
5. Como explicar a "identidade cultural" de sociedades sem estado? Por exemplo, como explicar a identidade cultural dos Maori ou dos aborigenes australianos?