8.3.04

Ainda o dia Internacional da Mulher

A minha amiga Ana Drago, dirigente (e às vezes deputada) do BE, escreveu hoje um texto muito interessante, sob a forma de Carta Aberta ao Primeiro Ministro, publicado no Público.

O texto começa assim:
«Confesso-lhe que, apesar dos avisos de amigos, não consigo conter o espanto. Não consigo perceber como foi possível que a sua bancada parlamentar tenha recusado um novo referendo que permita descriminalizar o aborto.»

Depois seguem-se uma série de razões, já conhecidas, em defesa da despenalização do aborto.

«Por isso, queria que soubesse que agora que se celebra o Dia Internacional da Mulher (8 de Março), é mais um dia em que procuro novos caminhos para saber o que faço da minha revolta com a sistemática condenação do meu direito ao meu corpo.»

Para quem entenda - não o meu caso - que a questão da penalização/despenalização do aborto se deve colocar em termos de "direito da mulher ao seu corpo", a defesa de um referendo, mesmo como mero instrumento para alcançar um fim (a despenalização) é incoerente. E se o sim vencesse, num referendo em que mais de metade dos eleitores recenceados votasse? Estaria assim legitimada a "supressão" do "direito de cada mulher ao seu corpo"? Durante quanto tempo seriam os resultados de tal referendo vinculativos? Ralizar-se-ía novo referendo na legislatura seguinte, fosse qual fosse o seu resultado?

Ana Drago conclui, dirigindo-se a Durão Barroso:
«E é cúmplice consciente do discurso condenatório, da discriminação persistente contra as mulheres, da sua vivência nesse permanente estatuto de uma cidadania menor. E isso, eu, que sou mulher, não lhe posso perdoar.»

Está no seu direito, é obvio. Hoje é o dia Internacional da Mulher. Talvez não seja um dia igual ao "dia dos namorados". Mas é um atestado de efectiva menoridade às mulheres. Como escreveu a Sara:
«Sou minoria? Estou em extinção? Preciso que cuidem de mim? Preciso de "protecção"?
Não, obrigado.
»

Suspeito que foi um homem quem se lembrou de criar este "Dia Internacional"...