A questão da distribuição dos folhetos anti-aborto nas escolas suscita interpretações diversas.
Sou sensível à opinião que se retira desta posta de João Miranda - se estivermos a falar de escolas privadas, não me parece que o Ministério da Educação tenha algum papel a desempenhar no problema.
Se essa distribuição de folhetos tiver acontecido nas escolas públicas temos de aferir se isso foi feito por funcionários e professores dentro do espaço e tempo escolar - as notícias não são coerentes sobre este aspecto - ou fora dele.
No primeiro caso, o Ministério tem poderes para impedir e até sancionar esses comportamentos (a bondade deste protagonista para o fazer é outra discussão); no segundo caso, julgo que o Ministério deverá abster-se de tomar qualquer atitude.
Mas o que mais me choca em toda esta questão é a flagrante falta de inteligência do comportamento da Associação SOS Vida, cujo principal promotor é o padre Jerónimo Gomes. Se queriam atingir algum objectivo de influenciar a opinião pública contra a IVG, temos de concluir que o resultado foi exactamenteo contrário.
O padre Jerónimo e seus acólitos colocaram-se no ponto ideal e na posição "a jeito" para que todo o folclore esquerdista se agitasse e retirasse dividendos fáceis. Puseram a questão na dimensão em que esta não deve ser discutida. Chocaram, especialmente, os seus possíveis apoiantes.
Foram desrazoáveis, exageraram até ao absurdo: aquela alegação de que no hospital de Taiwan até se compram bebés mortos a 50/70 dólares para churrasco!!!". Ao lado, uma imagem de um alegado feto num prato, numa mesa onde um oriental (o artista chinês Zhu Yu), com os talheres na mão, se prepara para comer é de uma falta de proporcionalidade ao caso português e denota um fanatismo irredutível ou - é melhor dizê-lo directamente - uma estupidez desmesurada!
O padre Jerónimo e seus acólitos fizeram o melhor favor dos últimos anos aos militantes pró-aborto em Portugal. A falta de lucidez da sua atitude denota o nível em que este debate está a ser feito por ambos os lados.
É um combate de gente irremediavelmente surda, arvorada em Apóstolos - uma vez mais, Helena Matos - da sua verdade absoluta e cujos contornos desencantam quem quer que pretenda impor alguma seriedade na discussão.
É uma luta de extremos para extremistas cheios de certezas absolutas. Um debate sem fim, cada vez mais nas mãos dos padres Jerónimos e dos Franciscos Louçãs. Por mim, estou farto!