11.3.04

Novo Antisemitismo II: ANTISEMITISMO E "ANTI/ALTER - GLOBALIZAÇÃO"

Nuno Guerreiro, da Rua da Judiaria escreve uma extensa e interessante posta, cheia de algumas interrogações e muita informação, enquadrando o debate sobre o “antisemistismo”- ver, também, posta anterior de CAA.
Julgo poder notar que muitas dessas interrogações têm, para além das pistas sugeridas pelo autor – um homem de esquerda e judeu – outras respostas que, de facto, só uma certa cosmovisão da guauche clássica, não permite a Nuno Guerreiro dar! É claro que o preconceito antiamericano, de uma certa esquerda intelectual depassée é, na minha perspectiva, o dado que falta na posta/ensaio referido – preconceito esse também ele, tal como Nuno Guerreiro expõe relativamente ao “antisemitismo”, dificilmente explicável só por razões lógico-racionais ou idiossincrasias anti-capitalistas. Estamos também, neste ponto que falta ao texto em causa, no domínio dos preconceitos (também) afectivos e emocionais, de uma maioria do pensamento de esquerda! Aqui vai – quiçá para lançar e estender o debate? – uma questão particularmente significativa e premente:



(...)“ a questão saliente nem sequer é: o que é que os activistas anti-globalização têm contra Israel? Mas, sim, é importante perguntar: Porquê só Israel? Porque não viajou Bovè até à Rússia para demonstrar a sua solidariedade para com os separatistas muçulmanos chechenos, que lutam a sua própria guerra de libertação? Porque circulam nas universidades petições para que não se invista em companhias com laços com Israel, mas não com a China? Por que razão as manifestações que denunciam as tácticas de Israel contra os palestinianos ficam silenciosas em relação aos milhares de muçulmanos mortos em pogroms em Gujarat, na Índia?” (...)

– parece-nos óbvio: porque o mundo ocidental-capitalista, personificado pelos E.U.A., não tem directamente nada a ver com tais questões...

...E continuando, com a devida vénia à Rua da Judiaria:

“(...) É verdade, e urge realçar, que muitas NGOs anti-globalização fizeram já soar o alarme, reconhecendo a infiltração de neo-nazis e do ideário antisemita no seio do movimento anti-globalização. Mas como escreve Mark Strauss, o movimento em si não está livre de culpas. “Não sendo intrinsecamente antisemita,
mesmo assim tem ajudado os antisemitas ao propagar teorias da conspiração
.
E onde há conspiração há conspiradores – e inevitavelmente, porque assim tem sido ao longo dos séculos, o dedo acusatório antisemita volta-se contra os judeus, os eternos “manipuladores da alta finança”.
Por ser de esquerda (será necessário mostrar aqui o cartão do meu partido?)*, sinto tudo isto ainda mais de perto. Este “socialismo dos tolos” torna agora real o que muitos consideravam simplesmente inconcebível, juntando do mesmo lado da barricada, por exemplo, algumas posições do Bloco de Esquerda e as opiniões dos skinheads neo-nazis que, em 1992, na Rua da Palma, mataram José Carvalho. (...)”

* o sublinhado (assim como o bold) é da nossa responsabilidade.