3.3.04

SOBRE O ABORTO E COMO MULHER,

gostava de dizer algumas coisas:

Não conheço na minha geração e nas anteriores e posteriores que me estão próximas, quase nenhuma rapariga ou mulher que não tenha abortado, pelo menos, uma vez na vida.
Como não conheço nenhuma rapariga solteira que tenha engravidado antes dos 25 anos (e conheço muitas), que tenha optado pelo nascimento da criança.
Todas nós sabemos, só para falar na cidade do Porto, de inúmeros sítios e pessoas onde, de um dia para o outro, se consegue fazê-lo: médicos, clínicas, parteiras, etc. Se quiserem descer, por exemplo, a Av. da Boavista, comecem a olhar à esquerda e à direita, e logo verão...
Se não conhecermos nenhum desses sítios, basta consultar os jornais diários, abundantes em publicidade de casas dessas, que as anunciam com uma tal impunidade, que parece estarem a publicitar um negócio legal.
O que leva uma jovem não casada a fazer um aborto é não querer assumir responsabilidades. Não pensam em questões morais, nem nos problemas de subsistência económica, nem se a criança será ou não amada pelos pais. Não querem, muito simplesmente, assumir a responsabilidade de serem mães solteiras aos 18, 19, 20 e poucos anos de idade. Como, também, o não querem os namorados e progenitores das crianças. Ora digam-me lá, que rapariga tem fibra moral para aguentar sózinha a pressão do namorado, as consequências sociais (que começam na casa paterna) de ter um filho nessas idades? Quando, em troca, lhes é prometido o «regresso à normalidade» com um acto que todos, a começar pelos namorados, lhes dizem ser muito simples e sem consequências.
Esta opção não é moral nem, por vezes, muito consciente. As Igrejas da nossa cidade estão cheínhas de bons e ferverosos católicos, muitas e muitos de missa dominical, que já recorreram ao aborto. É apenas uma opção pela continuação na «normalidade da vida», cuja dimensão moral só é descoberta, quando o é, tarde de mais.
Também não se deve à falta de educação sexual ou de cuidados anti-concepcionais: todas sabemos, desde muito novas, que quem anda à chuva se pode molhar e que há certos cuidados que devem ser tomados. Contudo, há sempre na vida de uma mulher «horas do diabo» e, quem as não tiver ainda tido, que se prepare ou comece a atirar pedras. Por isso, é que todos somos humanos...
Por último: esta é a realidade dos factos, é o mundo do ser. Se quiserem especular sobre o que ele deveria ser (os filósofos são quase sempre homens...), também cá estarei para isso. Valerá é muito pouco. Ou mesmo nada.