6.3.04

A subjectividade parlamentar do clítoris III

Não julgo que a visão de Helena Matos choque com aquilo que escrevi aqui.

O projecto de lei que visava a repressão específica da excisão feminina merece a minha total aprovação. Até concebo que a moldura penal fosse agravada. Não reconheço qualquer legitimidade aos pais para mutilarem os seus filhos independentemente da eventual obediência a preceitos religiosos ou consuetudinários. É um crime terrível - a meu ver, já com contemplação legal genérica no C. Penal - e sem qualquer justificação, causa de exclusão da culpa ou atenuante, em abstracto.

Aquilo que provocou o meu ataque de fúria foi a cretinice da discussão parlamentar acerca da condição vital ou despicienda do clitóris, conforme a descrição da imprensa.

Claro que a incoerência dos partidos de esquerda face aos argumentos apresentados na questão do aborto foi absolutamente repugnante dado o elevado grau de hipocrisia em que assentavam. Como, uma vez mais, admiravelmente, Helena Matos denunciou.