De quem é a culpa? É a pergunta que está na cabeça de muito boa gente. O que deve ter a ver com essa coisa da cultura judaico-cristã. A culpa, mas não a responsabilidade. O que é logo à partida uma garantia de que não se irá a lado nenhum. A culpa pressupõe uma comunidade que partilha os mesmos valores e que segue as mesmas regras morais. Uma guerra é o sinal claro de que tal comunidade não existe.
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A responsabilidade pressupõe um contrato prévio, real ou implícito. Ora, na guerra libanesa temos os culpados, que conforme os gostos e as inclinações podem ser o Hezbollah ou Israel ou ambos. E depois temos os responsáveis de que ninguém fala. Os libaneses que agora procuram por culpados encontrarão certamente um que lhes serve à medida: Israel. Mas isso só servirá para se desresponsabilizarem a si próprios da sua segurança, eles que são os principais interessados nela.
O estado libanês existe para servir os libaneses. Serve, ou pelo menos deveria servir, principalmente para garantir a segurança contra inimigos internos e externos dos cidadãos libaneses. Os libaneses, principais interessados e responsáveis pela sua própria segurança, têm obrigação perante si próprios de pedir contas à organização que foi constituida para os proteger.
O estado libanês falhou. Falhou em primeiro lugar porque não conseguiu controlar a parte sul do seu território deixando uma organização terrorista com agenda própria em roda livre. E em segundo lugar porque não conseguiu proteger os seus cidadãos contra os ataques de um país estrangeiro. É irrelevante a "culpa" que esse país estrangeiro possa ter. Para um cidadão de um qualquer país, a ameaça estrangeira é um facto da vida fora do seu controlo. Como os terramotos ou os tufões. Aquilo que cada cidadão de cada país pode exigir, porque existe um contrato, é que a sua agência de segurança, isto é, o seu país, cumpra o seu papel enquanto agência de segurança.