Não há machismo mais incomodativo do que o dos defensores das «coitadinhas», das mulheres desamparadas vítimas da supremacia sexual dos homens, meio patetas e fraquinhas de corpo e de espírito, personagens saídas do neo-realismo socialista de Dickens e de um mundo dominado por machos impiedosos e exploradores da sua alegada fragilidade.
Em todos estes argumentários, sobretudo nos travestidos de progressismo esquerdista, é sempre a diminuição de género feminino que prevalece: as mulheres são seres fracos, frágeis, facilmente domináveis, submissos e menos adaptados ao mundo moderno. Salazar, para quem a mulher era a dona do lar e o exemplo da moral cristã, não diria melhor.
Em Portugal a nossa vanguarda do proletariado é fértil neste tipo de ilusões. Quando, por exemplo, se refere que 84% dos candidatos aprovados ao exame nacional que permite o acesso às magistraturas foram mulheres, logo surgem as mais diversas explicações para justificar a «excepção». Quando se diz que quem ultrapassa um júri deste quilate pode dar cartas em qualquer outra actividade, nomeadamente na política, imediatamente se arranjam argumentos em contrário. Eles acham mesmo que as mulheres, que no século XX conseguiram ultrapassar todas as discriminações de que durante muito tempo foram vítimas, estavam agora à espera que estes benfeitores se arvorassem em modernos trovadores românticos, e generosamente se lembrassem delas para lhes abrirem os corredores do poder e da política.
Quem vive neste mundo, já há muito percebeu que o poder pertence cada vez mais às mulheres: na família, no trabalho e na sociedade. Aqueles que julgam, por exemplo, que o domínio do poder judicial é menos importante que o do poder político, e que quem consegue ascender ao primeiro é incapaz de conquistar o segundo senão através de leis de beneficência sexual, andam de olhinhos tapados.