31.7.06

Do agendamento

Nos últimos dias tenho reflectido sobre as razões porque um conflito numa pequena faixa de território se transforma na agenda global planetária, dominando totalmente os meios de comunicação, os políticos, os governantes, os especialistas politico-militares-estrategas e sobretudo o cidadão comum. Tanta atenção, tanto escrutínio, análise e em especial, paixão, é algo que tenho dificuldades em entender. O nível de envolvimento emocional é tão elevado que ai de quem não tenha ou não manifeste opinião sobre o assunto. Certamente não será pessoa de bem, nem cidadão. Não existe.
Mas afinal, porquê?
É certo que neste caso, ao contrário de outros conflitos, temos imagens, testemunhos, directos difundidos para todo o mundo e centenas de jornalistas no local a dizerem-nos as mais variadas versões sobre o que se passa. Mas isso é um efeito, não a causa. A questão inicial mantêm-se: porquê aquele conflito em particular e não outro qualquer? O que o distingue dos demais que justifique tanta atenção?
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Não será certamente por se tratar de uma guerra. Disso há muito por esse mundo fora. Dos meios militares utilizados, ou do nível de violência provocada também não se distingue particularmente de outros conflitos actuais. Será o número de vítimas civis? Não creio. No Sudão, no Congo, na Nigéria, no Paquistão, na Tchétchénia ou no Iraque são assassinadas muitas mais sem suscitar um por cento dos actuais níveis de comoção ou de atenção. Será que por estar directa ou indirectamente em questão o direito de várias populações à sua autonomia política se justificará tal nível de atenção? Também não. Cabinda e o Tibete não suscitam uma linha sequer de análise, quanto mais um simples pedido de justiça. Estar em questão a disputa do domínio sobre a chamada «Terra Santa» afirmam-me que não poderá estar na base de tanta emoção, pois juram-me que isso já nada diz às pessoas em geral. Evidentemente também não quero crer que tanta gente se manifeste emocionalmente apenas porque estão envolvidos judeus, pois que tais reacções epidérmicas e irracionais só terão ocorrido na Idade Média ou em regimes perversos. Petróleo ou outras riquezas não há.

Bom, ao final e vistas as várias tentativas de explicação, sem sucesso, mantenho a minha questão: como explicar e que razões justificarão que aquele particular conflito tome conta da agenda política-mediática global e leve a um tão grande nível de envolvimento emocional de milhões de pessoas?