24.7.06

os bons sentimentos

O mal de coisas como esta, não é tanto estarem disfarçadamente contra ou a favor de um dos lados da guerra. Não é serem ideologicamente comprometidas com qualquer uma das partes do conflito. Nem gostarem mais de Israel ou dos seus inimigos. Numa sociedade livre as pessoas podem opinar e defender o que muito bem entenderem, sem que daí venha mal ao mundo. Não é este, portanto, o problema.
O que dá voltas ao estômago e provoca náuseas em exercícios deste calibre, é a presunção, a vaidade, a arrogância e a prosápia dos seus protagonistas. Eles sabem que um abaixo-assinado contra a guerra é uma inutilidade e uma idiotia. Obviamente que nem Israel, nem o Hezbollah, nem a Síria ou o Irão sabem da existência dos senhores Eduardo Lourenço, Prado Coelho, Januário Ferreira, Miguel Portas e Ilda Figueiredo, menos ainda dos seus abaixo ou acima assinados. E, embora possam parecer o contrário, os subscritores do documento também não são idiotas ao ponto de pensarem que o seu acto possa ter outras consequências, senão a de aparecerem domesticamente nos noticiários, que é, em rigor, exactamente o que pretendem.
No século passado, à esquerda e à direita, inúmeros activistas políticos e intelectuais pegaram em armas e voluntariaram-se em muitos dos conflitos que marcaram a Europa do seu tempo. Em Portugal, para não irmos mais longe, bastará termos presente a memória de Emídio Guerreiro. Hoje, assinam documentos e prestam declarações à comunicação social, à custa da morte e do sofrimento alheio.