25.7.06

ELITES - a propósito do Rivoli

Concordo com tudo o que aqui diz o João Miranda. Apenas esta frase me causa grande perplexidade:
«As reacções das elites do Porto são muito esclarecedoras
Elites do Porto? Quais? Onde estão? Quem são? O que fazem? Onde constam? O que os distingue?
O Porto, tal como o resto do país não tem elites. Há um conjunto de pessoas que julgam que essa qualidade deriva de um apelido de origem mais do que duvidosa, de uma série mal sincopada de relações sociais de índole indisfarçadamente paroquial ou, até, do nome da freguesia que ocasionalmente habitam. Mas isso não são elites.
Para que o qualificativo tivesse razão de ser teria de existir uma percepção colectiva sobre a cidade, relativamente sistematizada e consequente. Conscientemente ou não, esse conceito acarretaria naturalmente um espaço de reflexão diversificado, aberto mas direccionado, uma massa crítica variada mas sedimentada. Um pensamento, uma consciência de si. No Porto, como no resto do país, nada disso existe.
Há uma gentalha que pulula à volta de alguns círculos de poder, sempre transitoriamente. Outros que confundem o conceito com a marca da indumentária ou com os múltiplos maneirismos amaneirados que crêem etiqueta.
No Porto, há alguma força económica mas tão fragmentada nos propósitos que nunca se assume como força viva. A pouca intelectualidade que resta está anestesiada, em torpor permanente, na dependência viciante dos favores estatais ou de outros entes públicos bem menores. No Porto, como no resto do país, há pessoas que são de elite - mas não há nada que se assemelhe a elites. Excepto no pior sentido da expressão.