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Não é a primeira vez que o tema da assunção integral do “outro” é tratado no cinema – recordo-me do “Kagesmusha, A Sombra do Guerreiro”, de Akira Kurosawa.
A obsessão em se ser o “outro”, em viver a vida do “outro”, em incarná-lo até às últimas consequências, provavelmente mais do que o “outro” o teria feito, torna-se no pretexto da fuga de si mesmo que a personagem de Sean Penn representa e constitui, também, a base reflexiva em que assenta toda a história de “21 gramas”.
O choque de sair de si e ser o “outro” gera perturbações insuperáveis geralmente fatais. Mas o final – assim acontece nos dois filmes – é resultado de uma busca compulsiva. Mais do que encontrar a morte, parece ser uma auto-imolação daquele que não conseguiu apossar-se do “outro” para além de um breve espaço.
As interpretações são extraordinárias. A realização é um puzzle desconcertante de Alexandro G. Inárritu que, no fim do filme, descobrimos que não podia ter sido feita de outra maneira.
Antes dos Óscares e para além deles, “21 gramas” é um grande filme.