17.3.04

AVISO PRÉVIO

Não acredito em sondagens. Nem naquelas cujos resultados me são simpáticos, nem nas que me desagradam. Pura e simplesmente não lhes dou credibilidade.

As sondagens políticas são meros instrumentos de combate. Como tudo aquilo que se insere num sistema de crenças, a sua eficácia está ligada à quantidade de fé com que a comunidade as considera. Embora leigo, observo e julgo. Recuso-me a atribuir o qualificativo de científico a resultados de auscultações obtidos em condições permeáveis e, tantas vezes, de modo condicionado e direccionado.

Hoje, as sondagens são uma indústria. Que se auto-promove e que sabe engrandecer, como nenhuma outra, as suas virtudes. As pessoas habituaram-se a dar-lhes crédito. Para quase todos os políticos que conheço, são um dogma insuperável.

Há anos comparei a lógica e a funcionalidade das sondagens ao que se fazia na Antiguidade para perscrutação dos tempos vindouros: "um método considerado infalível para prever o que ia acontecer consistia em observar cuidadosamente a cor interior do coração de um anho, sacrificado para o efeito. Também o fígado de aves era tido como fidedigno".

E concluía: "Hoje, o esquema não me parece ser muito diferente, se não na forma, pelo menos no seu conteúdo. Agora não se sacrificam animais – fazem-se audiometrias. Não se examinam entranhas sangrentas – analisam-se números, por amostragem. Já não é um grave sacerdote que decifra e interpreta os sinais e revela o devir – temos, presentemente, peritos em sondagens, novos feiticeiros do positivismo, que com um ar sério e um tom pretensamente científico nos esclarecem acerca da vontade da grande deusa dos tempos modernos: a opinião pública".

Ainda mantenho a mesma visão.