18.3.04

MEU CARO JOÃO,

É verdade quase tudo o que diz.
Principalmente que o político tem um domínio próprio, com critérios específicos, que o distinguem de todas as outras manifestações humanas. Os neo-maquiavévicos, no século XX, entre os quais o Julien Freund, disseram-no com clareza e estabeleceram critérios (discutíveis) para essa área da natureza humana.
Por isso, eu também acho, no seguimento do que disse o João, que, a existir qualquer «ética» na política ela emerge dos interesses múltiplos da sociedade envolvente. Ela é o máximo denominador comum dos interesses individuais que é possível aferir.
O sistema democrático, fundado no método eleitoral livre e plural, é um método de determinação desse verdadeiro «preço de equilíbrio» do mercado político. Imperfeito, é certo, mas aquele que, até agora, manifestou melhores capacidades para evitar males maiores, concretamente, a utilização da violência no processo das modificações do aparelho de governo.
O que eu acho e com isto concluo, é que no mercado político, como em qualquer outro mercado, os consumidores podem ser enganados por muitas formas e várias razões, desde logo na informação sobre os produtos que vão consumir, podendo levá-los a escolhas que poderiam ter sido diferentes. O que é grave no mercado político é que estas escolhas têm, na maior parte dos casos, períodos longos de permanência (quatro anos e mais), durante os quais o consumidor não as pode alterar. Mesmo que se sinta enganado.
Julgo que foi isso que sucedeu (e sucederá) em Espanha. Não tenho forma de, por enquanto, o demonstrar. É só um feeling feminino.