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Nas galerias, os Apóstolos de ambos lados - na feliz expressão de Helena Matos - vociferaram contra o facto dos "outros" não terem a consciência formatada do mesmo modo que a sua.
A grande novidade do dia foi, para mim, esta posta da Sara Muller. Percebi que foi redigida com emoção. Mas isso não atenua o exagero forçado da generalização inicial: «Não conheço na minha geração e nas anteriores e posteriores que me estão próximas, quase nenhuma rapariga ou mulher que não tenha abortado, pelo menos, uma vez na vida».
Calma! Não conhece a Sara, mas conheço eu. Todas as generalizações são falsas, incluindo esta última. O aborto é problema candente, mas não é uma fatalidade que atinge todas as mulheres portuguesas.
Mas o que apreciei naquilo que a Sara escreveu é o prisma feminino. Estou farto de ver homens a sentenciar sobre um tema acerca do qual só nos apercebemos dos contornos. Quem advoga o dogma da responsabilização feminina a qualquer custo não pode deixar de perceber que nós, os homens, somos normalmente os primeiros a dizer que "elas" têm de resolver o problema - "delas", naturalmente.
Correndo o risco de irritar muito boa gente, começo mesmo a pensar se a legitimidade acrescida das mulheres na discussão e nas decisões sobre este tema não deveria ter alguma implementação prática. Será que "elas" o desejariam? Não sei.
Já agora, se alguém souber que me esclareça: é verdade que no referendo a abstenção feminina foi superior à masculina?