Noto que rapidamente, em alguns blogs como, por exemplo, o Cruzes Canhoto (com o seu questionário eleitoral - ver uma posta antecedente do Gabriel), começou a veicular-se a ideia de que os resultados das eleições em Espanha nada teriam a ver com os atentados, mas sim com a atitude do Governo Espanhol "ao esconder a verdade" (!). Fazem-se também ligações com o caso Prestige.Ora, julgo que começa-se a laborar num erro que, parece-se, tenta esconder uma certa má-consciência (desnecessária e injustificada - se for mesmo o caso).
Claro que o caso Prestige deixou marcas quanto á forma desastrada como o governo de Aznar o tratou - porém, não suficientes para se repercutirem nas eleições legislativas. Prova: as eleições autonómicas na Galiza, ganhas (novamente) pelo PP e as próprias sondagens pré-eleições legislativas!
É claro que o resultado das eleições de domingo tem tudo a ver com os atentados! O Governo mentiu? Sinceramente, acho excessivo dizer-se isso: teria gostado de mentir? Sem dúvida....
Parece-me estranho falar-se definitivamente em mentir e, no próprio dia em que a acusação surge, serem divulgadas as primeiras prisões para interrogatório de cidadãos que, por acaso, até eram (alguns deles) marroquinos! O que é que poderia dizer-se mais? O que é que o futuro governo vai dizer mais? Sabe-se, neste momento, mais alguma coisa? Não era natural que a primeira reacção fosse concentrar baterias na ETA?
Não tenham dúvidas, caso o governo tivesse, porventura, logo, de imediato, afirmado que se tratava de um atentado da Al-Quaeda, as manifestações propagadas e ampliadas entusiasticamente pelas televisões teriam existido na mesma, só que talvez mais assumidas contra o verdadeiro alvo dos manifestantes: o próprio governo e a sua participação na Guerra no Iraque.
Não há necessidade de ter má-consciência; levemos tudo até às últimas consequências: foram mesmo os atentados que mudaram o putativo sentido de voto dos espanhóis- e quem pôs as bombas sabia qual o efeito provável do acto de carnificida praticado. Isso pode significar uma victória do terrorismo? Talvez, em princípio e em termos imediatos, sim! E depois? Há que encarar as coisas como elas são - sem que haja sequer lugar a qualquer recriminação ou má-consciência, uma vez que estão em causa resultados de votos, eleições democráticas...
O que é grave (e desonesto intelectualmente) é, mesmo deslizantemente e sub-conscientemente, tentar-se a "quadratura do círculo"!....
É por isso que não posso concordar, neste ponto, com, por exemplo, o Cruzes Canhoto.