Na evolução do apuramento de responsabilidades no atentado de 11 de Março, tudo faz lembrar um romance policial de fraca qualidade, com pistas disseminadas em abundância e de clara evidência desde a primeira hora: as declarações subsequentes e imediatas ao atentado do Batasuna («sigam a pista islâmica»), o Corão deixado na carrinha roubada, a carta do grupo islâmico terrorista e, por fim, a declaração solene da al-Qaeda em cassete vídeo deixada à porta de uma mesquita. Tudo isto acompanhado juras da ETA de não envolvimento, que influentes sectores políticos imediatamente reconheceram como sérias e verdadeiras: palavra de terrotista é sagrada!
Esta vertiginosa sequência de acontecimentos sucedeu-se em pouco mais de quarenta e oito horas. Iniciou-se a três dias das eleições legislativas e concluiu com acusações ao governo do PP, por parte do PSOE, da esquerda em geral e de manifestantes «espontâneos», de ocultamento da verdade e de responsabilidade directa pelo sucedido, por causa do apoio dado aos EUA na ocupação do Iraque. O governo ainda em funções tem-se limitado a repetir o que é evidente: nenhuma pista poderá ser, por enquanto, abandonada, sendo que tudo levava a crer, pelo menos no início, que se tratara de um atentado da ETA. E, por mais que as possíveis provas evidenciem outra hipótese, nenhuma investigação séria poderá, em quarenta e oito horas, apresentar conclusões definitivas.
Resta saber se o PP será ou não sacrificado nas eleições de hoje, se o eleitorado castigará Aznar e os seus, e se, por fim, como sempre acontece na última página dos policiais de segunda, o criminoso não é outro, senão a personagem simpática que todas as «pistas» pareciam absolver.