29.4.06

ainda o 25 de abril

O Bruno Cardoso Reis insiste na tecla mais do que pisada de que quem não comemora o 25 de Abril de cravo na lapela não é bom chefe de família, muito menos um democrata dos quatro costados. Vai daí e refuta argumentos que, curiosamente, não me lembro de ter utilizado nos «post» que aqui editei por ocasião do último aniversário da data. A saber, que o 25 de Abril não foi responsável pela crise económica que se instalou no país, porque ela já cá estava no ano anterior, e que Spínola não era «o único democrata» da junta revolucionária.
Pois é: de facto, nem Spínola seria propriamente um democrata de alma e coração (nem posso garantir que houvesse um único desses exemplares na Junta de Salvação Nacional, composta por oficiais com folhas exemplares de serviços prestados ao regime deposto), nem podemos, em boa verdade, ignorar os efeitos provocados pela crise do petróleo, que atingiu Portunal na primeira parte dessa década.
As questões são, porém, outras.
Apesar da OPEP, teria sido uma boa ajuda que a selvajaria instalada pelos governos de Vasco Gonçalves, as nacionalizações, as expropriações, as perseguições aos empresários, etc., não tivesse ocorrido. Não sei o que pensa o Bruno sobre isto, mas eu diria que isto mesmo foi o que transformou uma crise económica circunstancial, numa crise económica estrutural da qual ainda hoje sofremos as consequências.
Sobre Spínola e o resto dos revolucionários que fizeram (é bom acentuar este aspecto) a revolução, apenas há que distinguir as responsabilidades de uns e de outros nos acontecimentos, a saber: na efectiva implantação da democracia, no afastamento da ameaça real do comunismo e na entrega vergonhosa dos povos africanos ao imperialismo soviético. Também aqui, as responsabilidades não são todas iguais, caro Bruno. E bom seria que se não fizesse a «história» deste período sob o manto diáfano da «inevitabilidade» histórica das revoluções. É, também, por isto que o liberalismo se distingue do colectivismo: na aceitação da responsabilidade individual e na negação do historicismo.