Num discurso a tresandar a socialismo, Cavaco recusou abordar a reforma do sistema político, talvez com receio de melindrar ainda mais os nossos "representantes", tão zurzidos eles têm sido à conta das "gazetas" e da votação electrónica.
Foi pena. Teria sido uma questão bem mais estruturante do que a abstracção por ele escolhida, a sempre bem sonante "justiça social", que ninguém sabe o que é, mas cuja bondade ninguém ousa pôr
Cavaco lamenta a existência de um país dual que ele, mais do que ninguém, ajudou a criar com o assistencialismo dos fundos europeus para o interior e com a sua política concentracionária dos investimentos e da actividade económica na capital. Cavaco queixa-se da maior desigualdade na distribuição de rendimentos da UE, mas foram as suas políticas centralistas que potenciaram as disparidades regionais que subsistem e não param de crescer.
No fundo, Cavaco mais não fez do que propor a continuação do assistencialismo, um dos principais factores de exclusão, numa 2ª versão do seu Plano de Erradicação de Barracas apresentado em 1993 e que serviu, fundamentalmente, de contraponto mediático a todo o espalhafato que Soares vinha fazendo com as presidências abertas. Esta nova versão terá, ao que parece, o nome pomposo de Plano de Acção Nacional para a Inclusão, mas os pressupostos de implementação mantêm-se. Então como agora, também se fez um fugidio apelo à sociedade civil, mas relevaram sobretudo as instituições do Estado, central e local, bem como as respectivas "sucursais" privadas, as instituições ditas particulares de solidariedade social.
Depois do plano tecnológico, Sócrates não desdenhará dar um sinal da excelência da co-habitação e irá por certo aproveitar o PANI para a projecção, com toda a pompa e mediatismo, de mais um desígnio nacional, materializado nuns quantos slides em Power-Point.
O colectivismo está bem e recomenda-se. Os excluídos terão porventura mais esmolas, mas continuarão a viver em zonas sem actividade económica, portanto sem trabalho nem dignidade. Excluídos continuarão.
P.S.: Afinal não é PANI, mas sim PNAI, criado por Guterres e em reformulação por Sócrates. Agradeço o esclarecimento do nosso leitor WR, que só vem confirmar o sentido da posta: ao fim de todos estes anos, os excluídos continuam a "pnar"...