25.4.06

o dia da liberdade?

Não vale a pena insistir no óbvio: o 25 de Abril de 1974 não instaurou qualquer regime democrático em Portugal, embora muitos daqueles que participaram na sua realização estivessem genuinamente imbuídos dessa intenção. Mas esses homens de Abril foram afastados alguns meses mais tarde, no 28 de Setembro, por uma camarilha que tentou impor uma ditadura comunista em Portugal e quis evitar que se realizassem eleições democráticas para a Assembleia Constituinte.
Há poucos dias atrás, em conversa com um dos deputados dessa primeira Assembleia democrática portuguesa (que chegou a estar cercada e sequestrada antes de concluir os seus trabalhos), de que mais tarde viria a ser seu presidente, o meu interlocutor afirmou-me uma ideia curiosa: se, naquela altura, existissem empresas de sondagens que tivessem determinado com proximidade os resultados eleitorais de 25 de Abril de 1975 e o humilhante resultado do Partido Comunista Português (12%), as eleições provavelmente não se teriam realizado.
Foi, precisamente, por esta divergência existente entre o «país real» e o país ficcionado pelo Partido Comunista e por Álvaro Cunhal, bem como pela acção de um grupo de militares determinados, apoiados pela maioria esmagadora dos portugueses, que Portugal teve condições para ser um país democrático a partir do 25 de Novembro de 1975.
Eu sei que a História e a memória dos povos se faz de mitos e de símbolos, nem sempre com uma forte aderência à realidade. Querem conservar o 25 de Abril como o «Dia da Liberdade»? Tudo bem. Mas não reescrevam a História, nem contem «histórias» a quem, por essa altura, já cá andava.