27.4.06

De novo a Ota e a formação/destruição de capital

Nos comentários a esta posta do João Miranda, gerou-se alguma discussão sobre a Ota com o nosso leitor "betinho da linha", em que também intervim e que me parece pertinente trazer para 1º plano. A certa altura, afirma o referido leitor:

Ai isso é que releva. A OTA sempre foi considerada, avaliada e decidida tendo
como pressuposto o desaparecimento da Portela e isto parece simples de entender: se a Portela servisse não era necessário outro aeroporto. A discussão sobre a OTA é bizarra: nunca ninguém discutiu a viabilidade do aeroporto Sá Carneiro, mas discute-se a necessidade de acabar com um aeroporto situado em pleno coração da cidade de Lisboa, com o tremendo impacto do ruído e questões de segurança associadas à sua localização.


Há aqui várias falácias sobre investimento, risco e retorno que importaria desmistificar:

  1. Em qualquer projecto de expansão, é sempre anti-económico destruir capital já existente se este mantém condições de funcionamento aceitáveis e rentáveis. Se eu achar que necessito de uma 2ª habitação, seja por motivo de férias, de trabalho ou por simples capricho, é totalmente irracional destruir a primeira, sabendo que irei dar utilização às duas. A Portela constitui um equipamento que ainda pode crescer e que gera benefícios líquidos. Uma vez atingida a sua capacidade máxima, justifica-se então a construção de um novo aeroporto, mas nunca a destruição do antigo.
  2. Sendo então o aeroporto da Portela rentável e o Sá Carneiro é deficitário, o que faz sentido é manter o que dá lucro e tratar de rendibilizar o que dá prejuízo.
  3. O ruído, é um problema que hoje está muito atenuado, tendo em conta que os aviões da nova geração, da Boeing ou da Airbus, são bastante mais silenciosos. E se o ruído for relevante, arrase-se desde já a 2ª circular, que emite muitíssimo mais decibéis e de forma contínua.
  4. Quanto aos riscos da localização da Portela, a medida de um risco - neste caso de acidente - deve ser sempre ponderada pela probabilidade da sua ocorrência. Estando estatisticamente provado que o transporte aéreo é, de forma indiscutível, o mais seguro, a probabilidade de um acidente por outras causas que não um atentado terrorista é baixíssima - eu diria, quando muito, um acidente em cada 100 anos.
  5. Por outro lado, a probabilidade de haver várias mortes por ano apenas pelo acréscimo de tráfego rodoviário induzido pela deslocação do aeroporto para a Ota é de 100%.
  6. New York/La Guardia, Miami, Chicago/Midway, Washington/Reagan, Los Angeles, San Francisco, San Diego, para citar apenas estes, são aeroportos com mais do triplo do movimento da Portela e inseridos em zonas com muito maior densidade urbanística. Não me consta que os habitantes das redondezas, a maioria dos quais se instalou na zona depois de construído o aeroporto (tal como em Lisboa), vivam em permanente stress com a perspectiva de lhes cair um avião no telhado.
  7. Se estamos de facto preocupados com a segurança, lembremo-nos que Lisboa está inserida numa zona sísmica, sendo que os grandes terramotos ocorrem, ao que dizem, em cada 250 anos. Ora, já se completou o 250º aniversário do terramoto de 1755, pelo que conviria evacuar de imediato a capital...
  8. Em suma, há teses alarmistas que não relevam, mas cuja agitação mediática pode ser muito conveniente para justificar o injustificável: investimentos megalómanos de eficácia duvidosa que irão comprometer a próxima geração, e destruição do que existe e cuja utilidade, conveniência, durabilidade e rendibilidade são indesmentíveis.