26.4.06

elementar justiça

Como é do conhecimento público (pelo menos, do «público» que lê o Blasfémias), não tenho sido particularmente meigo com o CDS-PP, nem especialmente simpático com a avaliação dos últimos anos do partido.
Daí, o meu confessado e assumido espanto pela qualidade, diria mesmo, pela excelência, da moção «Fazer Futuro» subscrita por um grupo de jovens dirigentes e militantes daquele partido, entre eles João Almeida, para a qual me alertou um oportuno «post» do António Costa Amaral.
O documento tem cabeça, tronco e membros, é sólido e faz sentido. Não é muito vulgar encontrarem-se estas qualidades neste tipo de documentos, invariavelmente vocacionados para a chincana partidária e para a precariedade dos congressos. O que lá está escrito representa a síntese possível do que pode ser um partido da direita democrática, influenciado pela tradição liberal, conservadora e democrata-cristã. Deve ser lido de fio a pavio, embora realce, por puro gosto pessoal, as passagens seguintes:

«Neste cenário, o CDS-PP tem um papel fundamental, como o único partido do arco constitucional capaz de assumir os objectivos de liberalização do Estado. O CDS-PP não sofre dos espartilhos ideológicos dos outros partidos e não tem uma base social de apoio avessa à mudança de paradigma.»

«O CDS-PP não pode ser apenas o que tem sido. Não pode ser um partido cinzento, de base confessional, viciado na sua própria incapacidade de se recriar e reformar, estatista como os demais, algemado a velhas propostas que pouco respondem aos novos problemas. O partido tem de ter a coragem de defender a mudança pacífica do paradigma, libertando-se do complexo de ter nascido à sombra de um PREC necessariamente empenhado em o arredar do espaço da democracia e dos direitos fundamentais.»

«Numa Sociedade livre e justa, o Estado deve dar espaço à afirmação pessoal do indivíduo e à organização natural da sua vida e da sociedade, servindo de âncora para os que evidenciam maiores dificuldades.»


Se a excelência do texto e das convicções corresponder à sinceridade das intenções, e não conhecendo praticamente nenhum dos subscritores nada me legitima a concluir o contrário, sejam muito bem-vindos e boa sorte.