Apesar da fama em sentido contrário que ainda vai resistindo no imaginário dos optimistas menos informados, baseada em pressupostos já remotos, a investigação criminal em Portugal deixa muito a desejar. Alguns garantem que tudo se deve a falta de meios. Outros dizem que é por causa da má organização. Há quem avance com a necessidade de um novo modelo que passará, inevitavelmente, com a reformulação radical das estruturas envolvidas no actual, Polícia Judiciária e Ministério Público incluídos.
Ninguém consegue perceber o que pretende o ziguezagueante ministro da Justiça que está. Suspeito que nem o próprio saiba muito bem o que fazer a médio prazo.
Mas a greve de hoje dos funcionários da PJ revela que tudo aquilo que se venha a fazer de positivo no sector não poderá ser influenciado pelos dirigentes sindicais daquela corporação. Pelo menos, se se quiser ser consequente e sério. Senão vejamos:
- Uma série de dirigentes sindicais da PJ revelaram as condições humilhantes em que são realizadas as tarefas de investigação criminal devido à falta de meios financeiros mínimos: não há dinheiro para o combustível, telefone, electricidade, tinteiros de impressoras, as horas extraordinárias não são pagas, etc..
- o ministro negou, titubeou, gaguejou, desconversou;
- a Associação Sindical marcou uma greve - com o critério de oportunidade que é amplamente reconhecido aos sindicalistas portugueses, a "jornada de luta" calhou na segunda-feira seguinte a um fim-de-semana alargado;
- entretanto, o ministro cedeu - atemorizado, aceitou aquilo em que se tinha engasgado pouco tempo antes e disponibilizou vários milhões de euros para a PJ;
- poder-se-ia pensar que o desvanecimento das razões que deram origem à marcação da greve seriam suficientes para a tornar inútil e, logo, dar origem à sua desconvocação...
- mas nada disso aconteceu - a greve manteve-se, imperturbável, a adesão está a ultrapassar os 90% e este fim-de-semana pascal está a extremamente proveitoso para os sindicalistas da PJ e seus seguidores.
A lógica deste processo parece ser clara - por maiores que sejam as cedências às "justas reivindicações sindicais" as greves continuarão, sobretudo se estiverem agendadas pertinho de "pontes" ou coisas semelhantes. É uma espiral incessante de exigir mais à medida que as reivindicações anteriores são satisfeitas e que caracteriza o espírito mais comum do Estado Social.
Atrevo-me a sugerir o próximo dia 2 de Maio, terça-feira, para o momento exacto que os astros ensinam como bastante aprazível para uma nova manifestação das boas razões dos sindicalistas.
Aproveito, ainda, para daqui desejar a continuação de um excelente fim-de-semana aos senhores investigadores criminais portugueses.