10.4.06
O PRINCÍPIO DO FIM DO ESTADO SOCIAL
... ou a "arte de bem Guterrar a toda a sela".
O ex-primeiro-ministro português, agora alto dignatário da ONU (juntou-se a fome com a vontade de comer!) distinguiu-se pela atitude governativa de avançar com o anúncio de medidas (já, à partida, tímidas e intrinsecamente receosas) e logo recuar, desabridamente, quando os protestos se adensavam.
Dois aspectos essenciais estavam, então, presentes:
- em primeiro lugar, as alforréticas características pessoais de alguém incapaz de arrostar com o desacordo dos outros;
- mas, sobretudo, o timbre de um "modelo de Estado" tornado impotente para encarar, sequer, os desafios mais patentes da contemporaneidade.
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A lógica do Estado Social, quer na sua versão socialista (1ª., 2ª. ou 3ª. vias) quer na sua vertente democrata-cristã (mesmo nos tons laicos franceses) só consegue sobreviver e conviver com os erros nos seus pressupostos quando o presente é calmo e o futuro mais ou menos previsível. Pelo contrário, torna-se inapto mal os tempos se começam a agitar. Aí, revela-se o principal inimigo de si mesmo, contraproducente nas omissões, fatal nas retiradas e sempre titubeante.
Villepin não é Guterres, certamente. Mas o caldo cultural em que emergiram é bastante semelhante. A impossibilidade genética em descobrir modo alternativos de resolver os problemas, situados fora do âmbito estatista e regulador omnipresente, é a mesma. Por isso, o seu destino será muito parecido.
Mas é este modelo de Estado Social que está a ser julgado em França. É o proteccionismo e o garantismo estatal desenfreado que asfixiam a livre economia, aumentam a intervenção dos poderes públicos e torna nulo qualquer esforço de regeneração. Aqueles que queimaram carros e livros nas ruas de Paris não entenderam que estavam a incendiar o núcleo duro da lógica existencial que bradavam defender.
Quando é que percebemos que um modelo de Estado está irremediavelmente decadente?
No momento em que os seus protagonistas constatam os seus erros e contradições mas já não conseguem encontrar soluções dentro da lógica-mãe em que marinam - tornada, ela própria, no principal obstáculo da sua renovação.