9.7.06

Glórias nunca dantes alcançadas...


Para agradecer o esforço, a determinação, a qualidade e os resultados, saiamos todos às ruas, às varandas, ao aeroporto, às praças, com bandeiras ou sem elas.
Esta a síntese de um emocionante e emocionado apelo que, do alto da sua cátedra, um grupo de notáveis - onde, entre outros, se incluem Marcelo, Coelho, Catroga, Júdice e Arnault - entendeu por bem fazer ao povo deste país. Daqui a algumas horas, trajados a rigor, eles próprios distinguir-se-ão no meio da multidão, sempre aos saltos e pinotes, agitando enormes bandeiras, bonés ou cachecóis, fazendo sorrisos de orelha a orelha ou caretas sorridentes para as câmaras e berrando sempre a plenos pulmões "Portugal olé, Portugal olé, Portugal oléhhhhhhhh!!!"
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De norte a sul, o povo responderá a este vibrante apelo e enxameará todas as praças, largos e alamedas deste país onde visionará, através de gigantescos ecrans que solícitos autarcas há muito disponibilizaram, a aterragem dos heróis e sua primeira e apoteótica pisadela em solo pátrio. As emoções desse momento único ficarão para os anais como o exemplo mais soberbo da portugalidade. Haverá risos, cantares, esgares, choros, baba e ranho; ao fim de alguns minutos, gargantas e claxons afónicos; ao fim de algumas horas, foguetório terminado, cerveja esgotada, alma consolada e ânimo redobrado para novas campanhas.

Tudo isto e muito mais será pequeníssimo tributo pela enorme e pesadíssima arca de troféus, nunca dantes conquistados, enorme lastro que esgotará o porão da aeronave. Senão vejamos:
  • Sete tiros certeiros, sete, a média de um por cada batalha, feito apenas ao alcance dos mais bravos e obtido contra hostes poderosíssimas, como a angolana, a iraniana, a mexicana ou a holandesa. Poupámos munições contra os toscos e amputados ingleses e contra uma seita de jacobinos em pré-reforma, mas acertámos nos tri-laureados teutões, coisa que pouquíssimos conseguem;
  • Uma enorme e emoldurada quantidade de cartolinas amareladas e rubras, em cuja angariação fomos campeões destacadíssimos;
  • Atribuição por unanimidade do prémio "patinho feio que amedronta gigantes belos";
  • Vencedor destacado do prémio "mérito próprio na ventura, culpa alheia na desgraça";
  • Conquista de inúmeros prémios individuais, muitos deles na categoria do "quase": os prémios "Pepsodent" (Ronaldo), "o mais peneirento" (de novo Ronaldo), "o mais fiteiro" (sempre Ronaldo), "o mais vaiado" (indiscutível Ronaldo) o "keeper-tri" (Ricardo), "o keeper que quase defendia mais dois" (Ricardo), "o keeper que quase dava um a marcar" (Ricardo), a "bandelette mais graciosa" (Nuno Gomes), o "quase bola de ouro" (Maniche), "os quase no dream team" (Ricardo, Ricardo Carvalho, Maniche e ainda Ronaldo).

Não há dúvida, somos os maiores, imbatíveis na glorificação do vácuo. Como diria o poeta, ditosa pátria que tais filhos tem...